Na gestão Dilma, PT acelera filiações e arrecada quase R$ 50 mi com 'dízimo'

Entre janeiro de 2011 e abril passado, a legenda arregimentou 196 mil filiados e só em 2013 contabilizou R$ 32,6 milhões; medida é vista como fundamental para a custeio da sigla se o Supremo confirmar a proibição das doações de empresas

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Por Ricardo Brito
Atualização:

BRASÍLIA - O PT acelerou as filiações ao partido durante o governo Dilma Rousseff e, nos últimos três anos, arrecadou a cifra recorde de R$ 49,7 milhões apenas com os petistas de carteirinha que, pelo estatuto da legenda, são obrigados a pagar a chamada contribuição partidária. Na comparação com os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o processo de arregimentação foi aperfeiçoado e o PT filia atualmente quase 8 mil pessoas por mês. Só no ano passado, com filiados, o partido bateu outro recorde ao arrecadar R$ 32,6 milhões, cerca de 20% das receitas do diretório nacional, com os dízimos - contribuição obrigatória que varia de acordo com a renda e o fato de o filiado ocupar ou não cargo público. O aumento da arrecadação por meio da contribuição partidária coincide com a possibilidade de as siglas não poderem contar mais com recursos de empresas para financiar suas atividades e as campanhas eleitorais dos seus candidatos. Em abril, a maioria do pleno do Supremo Tribunal Federal se posicionou contra tais doações ao julgar ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.Crescimento. A ascensão do PT ao governo federal, com a eleição de Lula em outubro de 2002, levou a um aumento no número de filiados. Na época, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, eram cerca de 829 mil filiados. Em abril passado, a legenda atingiu a marca de quase 1,6 milhão - um crescimento de expressivos 91%. A título de comparação, o aumento médio dos filiados de todos os partidos foi de 37% no período. O PMDB, que sempre ocupou a dianteira como maior partido em número de filados, cresceu apenas 6% nos últimos 12 anos - tem hoje 2,3 milhões de filiados. O maior aumento tem ocorrido no governo Dilma. Foram 196 mil filiados entre janeiro de 2011 e abril passado, número mais de duas vezes maior que o segundo colocado no período, o PSB, com 92 mil novos membros. A tabela de contribuições do PT parte do valor mínimo de R$ 15 por semestre, para os casos de quem é filiado sem ocupar cargo público e recebe até três salários mínimos, mas pode superar R$ 3,2 mil por mês, quando se trata de ocupante de cargo eletivo na esfera federal. Para o secretário-geral do PT, o deputado federal Geraldo Magela (DF), o crescimento do partido está ligado às campanhas mensais de filiação à legenda. Segundo ele, o processo de eleição direta também estimula as novas adesões à sigla. Ele lembrou que, recentemente, foi aprovada uma mudança segundo a qual era preciso estar em dia com as obrigações financeiras para ter direito a votar na eleição direta do PT. "Houve um processo de refinamento do critério (de filiação)", disse. Para o deputado federal Paulo Teixeira (SP), antecessor de Magela na Secretaria-Geral, as contribuições de filiados são o "caminho necessário" para os partidos se manterem, caso o Supremo Tribunal Federal decrete o fim das doações de empresas. Segundo ele, o PT tem potencial para incrementar as doações dos filiados comuns (sem cargos públicos) - responsáveis no ano passado por R$ 10 milhões dos R$ 32 milhões destinados à direção nacional.Preocupação. Confrontados com os números de arrecadação do PT apenas com os filiados, presidentes de partidos se surpreenderam. "Aí está a preocupação dos partidos quando acabar o financiamento privado: o PT não sofreria tanto", reconhece o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), que já tentou lançar uma campanha de arrecadação na legenda, sem sucesso. Com o maior número de filiados, o PMDB de Raupp tem contribuições optativas. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), avaliou que o PT consegue tal desempenho porque tem uma participação efetiva em cargos no Executivo, principalmente no governo federal. Ele admite não ser possível ter contribuições partidárias semelhantes às dos petistas e que o principal desafio do PP é, primeiro, mobilizar os membros já filiados. "Não temos como objetivo arrecadar com as pessoas agora e não temos como fazer", disse, ao criticar a discussão sobre o financiamento privado no Supremo. "Jogaram muito para a plateia e, no meu ponto de vista, até irresponsavelmente." Procurada, a assessoria de imprensa do presidente do PT, Rui Falcão, disse que ele não se pronuncia sobre questões envolvendo filiação e arrecadação de recursos, e recomendou à reportagem procurar a assessoria de comunicação do partido. A reportagem enviou questionamentos, por e-mail, à legenda, mas até a conclusão desta edição não obteve resposta. Contatado pelo celular, o secretário nacional de Organização, Florisvaldo Souza, não quis se pronunciar sobre o assunto.

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