Na formação do primeiro ministério, predomina a fórmula do 'Ctrl-C Ctrl V'

Nem nos governos militares o índice de renovação da Esplanada foi tão baixo: quase 40% dos escolhidos são os mesmos da gestão anterior

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Por Luiz Alberto Weber e BRASÍLIA
Atualização:

Apenas momentos dramáticos da história registram tamanho "Ctrl-C Ctrl-V" ministerial. Em 1945, Franklin Roosevelt morreu na vigência do mandato e Harry Truman, seu vice, assumiu a Presidência dos Estados Unidos. Para não desorganizar o país que comandava o avanço aliado na Segunda Guerra Mundial, manteve o gabinete do antecessor.

 

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Mergulhada na Normandia das estatais, na Stalingrado do DAS, na Monte Castello dos cargos de segundo escalão, batalhas por territórios orçamentários que sangram os cofres públicos, Dilma Rousseff copiou-colou boa parte da Esplanada erigida pelo eixo Lula-PT-PMDB.

 

O mandato de Dilma começa hoje com 14 ministros de Lula, taxa de absorção que beira os 40%. Nem nos governos militares - quando generais se sucediam em jogo combinado - o índice de renovação foi tão baixo.

 

Figueiredo, por exemplo, manteve quatro integrantes do governo Geisel. Médici emplacou só dois colaboradores diretos de seu sucessor. Nos anos 40, o general Eurico Gaspar Dutra elegeu-se presidente e homenageou o padrinho (Getúlio Vargas) com duas nomeações.

 

Dilma montou um ministério de dublês: personagens que só carregados de maquiagem possuem os requisitos profissionais e pessoais exigidos por ela para os ocupantes dos cargos. A eleita vazou que escolheria um médico-renomado-gestor-sem-partido para a Saúde. Mas o teatro de operações exigiu dela a nomeação do petista Alexandre Padilha, o @padilhando, tuiteiro mais rápido da Esplanada.

 

Espécie de lenda urbana - o executivo de mercado bem-sucedido e imune a criptonita fisiológica - fez parte dos primeiros devaneios de Dilma. O plano era entregar a tal fantasmagoria à pasta dos Portos e Aeroportos. Mas a assombração dos irmãos Gomes encarnou nas negociações e levou a cadeira para o prefeito da interiorana Sobral, Leônidas Cristino, do PSB.

 

Preenchidas as 37 vagas, os ministros podem ser classificados entre aqueles que: a) vão continuar fiéis a Lula; b) que falam "maranhês" e são habilidosos no manuseio de verbas públicas; c) os etcéteras; d) os integrantes da cota-boquinha, que preserva no bioma de Brasília os derrotados nas urnas estaduais; e) e nove mulheres, que também se encaixam em alternativas anteriores.

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A feição da Esplanada que quase não carrega o DNA da eleita é um produto do baixo poder de Dilma - que não se confunde com a falta de conhecimento técnico, incapacidade de agir como CEO ou chancela das urnas. Reflete sua inapetência pela barganha e escassa capacidade de persuasão dos atores políticos.

 

Em 2003, o cientista político Richard Neustadt, ex-assessor de Kennedy e autor do livro Presidential Power and the Modern Presidents, visitou Brasília para conhecer de perto o mundo de Lula. Para o professor, a fonte de poder emana da personalidade do mandatário. Lula era uma espécie de camundongo-ideal, que reagia aos estímulos como previsto: era persuasivo e dado às barganhas com o Legislativo (o mensalão não era bem o que o scholar tinha em mente).

 

Ao analisar a montagem do ministério russo, em 2008, pelo presidente Medvedev, obrigado a escalar os escolhidos de Vladimir Putin, diplomatas americanos chamaram-no de Robin. Não está longe o dia em que um cable da embaixada americana em Brasília apareça no Wikileaks com a transcrição de um desabafo de Dilma captado após a primeira crise: "Santo ministério, Lula!"

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