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Mulheres têm voz pela primeira vez na Conferência de Aids

Por Agencia Estado
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Foram 15 conferências mundiais sobre aids. Só agora, na Tailândia, as mulheres, acusadas em diversos países de espalharem o vírus HIV, tiveram voz. E, na plenária de hoje sobre trabalhadoras do sexo feminino, usaram seu tempo para afirmar: a política de 100% preservativo, adotada por vários países, não funciona. Obrigar mulheres a usá-las, muitas vezes pela força policial ou registro forçado, tem resultados piores do que o convencimento. "Não estamos defendendo o não uso. Mas qualquer política precisa levar em conta as nossas vulnerabilidades. Eu tenho orgulho de dizer que no Brasil estamos em 65% de uso regular. Porque é um uso consciente", disse a brasileira Gabriela Leite, coordenadora da Rede Brasileira de Profissionais do Sexo. A política de 100% de uso foi criada pela Tailândia, onde desde o início a epidemia cresceu muito entre prostitutas. Hoje, o governo tailandês garante ter um uso de camisinha de 90% entre as prostitutas, o que seria uma das razões do sucesso do programa de prevenção no País. No entanto, a norte-americana Carol Jenkins, que trabalhou para a agência americana Usaid e hoje dá consultoria no País, afirma que o índice de contaminação entre prostitutas na Tailândia ainda é alto, em torno de 14%. "Em países democráticos, onde há uma negociação, ainda é possível. Mas a maioria dos países que adotou essa política é autoritário, usa força policial, registros forçados. A corrupção permite que a mulher caia fora dos registros em alguns lugares em troca de algum dinheiro. Em outros, elas são costumeiramente estupradas por policiais. É possível uma política assim funcionar?", pergunta. Khantini Slamah, da Malásia, afirma que na maior parte dos lugares não adianta forçar ou distribuir preservativos. É preciso convencer a mulher a usá-lo. Para isso é preciso educação e trabalhos específicos. "Muitas não tem educação suficiente. É preciso usar teatro, música, trabalhar com a mulher", afirma. Gabriela explica que a maior dificuldade é trabalhar para convencer a mulher que a sua saúde e seu corpo é o mais importante. "Uma menina de 19 anos pode ter mais facilidade de negociação que uma mais velha. Essa é uma vulnerabilidade que precisa ser enfrentada. Outra: um cliente oferece mais dinheiro para transar sem camisinha e o aluguel está atrasado. A colega topa. É preciso trabalhar isso, desenvolver a auto-estima para que ela se convença de que é mais importante que essas coisas", diz Gabriela.

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