Mulher consolida conquistas e ocupa espaços

Por Agencia Estado
Atualização:

A última década do milênio consolidou as conquistas femininas de igualdade de direitos. Balanço divulgado na véspera do dia internacional da mulher pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as mulheres já representam 40,3% da população ocupada e 26% das famílias brasileiras são chefiadas por elas. A comparação dos números dos últimos dez anos mostra outra mudança: o porcentual de homens que trabalham e também se ocupam de afazeres domésticos passou de 35,8% para 51,2%. De acordo com os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), em 1992 a parcela de mulheres ocupadas na população representava 38,8%. Aparentemente, o aumento pode não parecer muito significativo, mas, segundo a consultora da pesquisa, Vandeli Guerra, é preciso lembrar que, entre os homens, o porcentual de ocupados caiu de 72,4% em 1992 para 67,9% em 1999. No mesmo período, entre as mulheres, passou de 43,4% para 43%. "Passamos por duas crises. Todos perderam", afirmou. "Mas a capacidade de recuperação das mulheres foi maior." Divisão Um aumento maior, no entanto, ocorreu no número de mulheres responsáveis por suas famílias. Elas eram 21,9% em 1992 e passaram a ser 26% em 1999. "Considero esse aumento bastante significativo. Aponta para um novo modelo de família", analisou a economista Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Segundo o balanço, o trabalho feminino é bem mais concentrado no setor de serviços (56,6%), seguido do agrícola (20,4%), do comércio (13,5%) e da indústria (9,5%). Entre os homens, essa divisão é mais equilibrada: 34% no setor dos serviços, 26,8% no agrícola, 25,8% na indústria e 13,4% no comércio. A boa notícia é que a mentalidade masculina parece ter mudado: mais da metade (51%) dos homens que trabalham declara também se ocupar de afazeres domésticos - esse porcentual não chegava a 36% no início da década. "Acho esse um dos números mais significativos do balanço", aponta Hildete. "Principalmente porque se trata de algo cultural, que não pode ser imposto por lei. Igualdade Com isso, seria possível dizer que, na década de 90, foi posto o primeiro tijolo na construção da igualdade entre homens e mulheres." Mais cética, Vandeli lembrou que a mudança pode ser resultado de um conjunto de fatores. "A necessidade pode ser um deles." A diferença entre os salários masculinos e femininos persiste: em 1999, as mulheres ganhavam o equivalente a 60,7% dos rendimentos dos homens. Em 1992, no entanto, esse porcentual era ainda menor, 53,2%. A consciência política também aumentou entre as mulheres. A sindicalização entre a população feminina ocupada passou de 13,6% para 15,3%. Já entre os homens, esse porcentual caiu de 22% para 18,9%. As mulheres também estão cada vez mais instruídas que os homens: entre 1992 e 1999 o número de meninos entre 7 e 14 anos fora da escola caiu de 14,4% para 4,7%; entre as meninas, a queda foi maior, de 12,4% para 3,9%. O balanço da década revelou que a queda da taxa de fecundidade feminina, iniciada em meados dos anos 60, continuou nas décadas seguintes e, nos últimos 20 anos, foi mais moderada. Era de 6,3 em 1960, passou para 3,5 em 1984, caiu para 2,6 em 1992 e, para 2,3 em 1999. "Tudo está interligado", afirmou Hildete. "Quanto menos filhos, mais liberdade a mulher tem para trabalhar fora." A pesquisadora lembrou ainda que, apesar da queda substancial da taxa, o Brasil nunca teve política de controle de natalidade. "Foi um movimento espontâneo."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.