MST segue com invasões do ´abril vermelho´ em São Paulo

Interior de São Paulo conta com mais duas invasões, uma delas na região do Pontal

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Por Agencia Estado
Atualização:

Dando seqüência às ações do "abril vermelho", cerca de 150 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) invadiram nesta segunda-feira, 23, a fazenda São Francisco, em Mirante do Paranapanema, na região do Pontal, extremo oeste do Estado de São Paulo. A fazenda, de 700 hectares, localizada no distrito de Costa Machado, possui rebanho bovino de leite e corte e é considerada produtiva. Segundo o proprietário Francisco Vila Real os sem-terra entraram na área erguendo foices e facões. "Eles cortaram a cerca e foram ameaçando os funcionários." A coordenação regional do MST informou que a ação faz parte da jornada nacional de lutas para acelerar a reforma agrária e que as terras da fazenda foram consideradas devolutas. O proprietário contestou. "Não tem nada devoluto aqui, são terras legitimadas há bastante tempo." Segundo ele, os invasores cortaram a cerca e misturaram as 1.500 cabeças de gado. Os funcionários estão impedidos de tirar leite a alimentar o rebanho. "Tiro mais de 300 litros de leite por dia e tenho uma usina de resfriamento na propriedade." Vila Real está preocupado com os dois filhos que ficaram na fazenda. "Aquele pessoal está armado." Os sem-terra, segundo ele, cortaram cerca de 30 eucaliptos que estavam em área de proteção ambiental, na margem de um córrego. Ele denunciou a invasão às polícias civil e militar. O fazendeiro é associado da União Democrática Ruralista (UDR). A entidade deve entrar com pedido de reintegração de posse. O presidente Luiz Antonio Nabhan Garcia entrou em contato com os comandos regionais das polícias civil e militar e pediu a identificação dos invasores. A entidade pretende responsabilizar civil e criminalmente os participantes da invasão. Área administrada pelo MST Com 1,7 mil hectares e 2,1 mil cabeças de gado, a fazenda Lagoão, em Itapura, no interior de São Paulo, foi invadida duas vezes em três dias e passou a ser administrada desde a manhã desta segunda-feira, 23, pelo MST. Os líderes do movimento proibiram o administrador e os funcionários de fazer os trabalhos de manutenção da propriedade e assumiram as tarefas da fazenda. A área foi invadida na última sexta-feira por 102 famílias. Os sem-terra estão acomodados em duas casas da colônia, num grande barracão, numa garagem de implementos agrícolas e em barracas montadas na área da sede da fazenda. Na manhã desta segunda, eles usaram ferramentas agrícolas, um gradeador da fazenda e dois tratores trazidos pelo movimento para destruir três hectares de plantação de capim colonião. Segundo Reneé Parrem, um ex-padre sueco, líder da ocupação, "o capim serve apenas para latifundiários criarem gado e agora vai dar lugar a alimentos que vamos plantar aí". Em menos de duas horas, os sem-terra colocaram abaixo a plantação. Odair de Assis Teixeira, administrador da fazenda, e mais dois funcionários estão liberados para deixar a fazenda se quiserem, mas receberam ordens dos patrões para permanecer no local. Mas além de ocupar casas, destruir plantação e isolar funcionários, o MST colocou seguranças que interditam e autorizam a entrada e saída de pessoas da sede da fazenda. A propriedade é do grupo Piperone Participações, ligado a italianos, de São Paulo, que, segundo Teixeira, entrou ontem (segunda) com pedido de reintegração de posse. O administrador esperava ainda nesta segunda-feira fazer um boletim de ocorrências denunciando à polícia a invasão de casas da colônia e o sumiço de cabeças de gado. Acusação de saque Obrigados a deixar a área por decisão da Justiça, integrantes do MST saquearam a fazenda São Luiz, em Presidente Bernardes, também no Pontal, invadida na semana passada. Segundo o proprietário Carlos Frederico Machado Dias, os 300 militantes fizeram um "verdadeiro arrastão" entre sábado e domingo, durante a desocupação da propriedade. Ele contabilizou o furto da bomba de um poço artesiano, um reservatório para água potável, duas caixas-padrão de energia elétrica e toda a fiação da casa usada pelos funcionários da fazenda. Os sem-terra destruíram 5 quilômetros de cerca e levaram o arame. Também danificaram tomadas e interruptores da casa, além de terem matado e descarnado três bois. Dias contou que essa foi a nona invasão da fazenda por sem-terra. A área também foi invadida, em anos anteriores, por integrantes do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast). Dias denunciou o furto na Delegacia de Polícia do município. Agentes da polícia científica estiveram no local para realizar perícias. O delegado Glauco Roberto Marques Moreira, que abriu inquérito, aguarda a chegada dos laudos para decidir se pede a prisão dos envolvidos. Ele informou que o inquérito apura crimes de invasão, danos, furtos e formação de quadrilha. "Já temos várias pessoas identificadas como prováveis autores desses crimes." O coordenador estadual do movimento Valmir Rodrigues Sebastião, que participou da ação na São Luiz, não foi encontrado durante todo o dia. Familiares informaram que ele estava em atividade fora do Pontal e só retornaria no final de semana. Outras lideranças do movimento na região não estavam autorizadas a se manifestar sobre o caso. A assessoria de imprensa do MST foi acionada e não deu retorno. Texto ampliado às 19h54

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