MST quer chamar atenção de Lula com invasão

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Por Agencia Estado
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A invasão da Fazenda Santa Izabel, em Alambari, na região de Sorocaba, foi um aviso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apressar a reforma agrária, segundo a coordenadora regional do Movimento dos Sem-Terra (MST), Maria Rodrigues, de 42 anos. A fazenda foi tomada sábado por 500 integrantes do movimento, mas até a tarde desta segunda-feira havia chegado pelo menos mais 100, além de 140 crianças. "O objetivo da ocupação é mostrar para o Lula que aqui tem uma demanda que não foi resolvida pelo governo anterior", disse. Segundo ela, o novo governo precisa ser lembrado que tem gente esperando pela terra. "Nesta região há 1.300 pessoas cadastradas pelo Incra através dos Correios e nós estamos fazendo a nossa parte que é mostrar onde está a terra improdutiva." O coordenador nacional do MST, Gilmar Mauro, disse que a ocupação foi decidida pela coordenação regional de Sorocaba. "Cada regional tem autonomia para decidir suas ações dentro das diretrizes do MST." Ele disse que o movimento não estabeleceu nenhuma trégua para o novo governo. "Se há gente para ser assentada e área improdutiva, a ocupação é uma forma de mostrar como resolver." A fazenda, de 798 hectares, pertence aos irmãos Adriano Guitte e Antonio Guitte Neto, de Sorocaba. Os sem-terra alegam que a área é improdutiva. "Só tem pasto nativo virando capoeira", disse o coordenador William Silva Almeida, de 40 anos. Segundo ele, a maior parte das famílias foi arregimentada nas cidades da região. Uma parte, cerca de 50 famílias, veio de São Paulo e outra, 30 famílias, de Campinas. O grupo chegou em 10 ônibus, abriu o cadeado do portão e derrubou a cerca de arame. Na área já ocupada, de 240 hectares, havia 250 cabeças de gado. "Os animais são de um arrendante e nós garantimos a ele que nenhum boi será tocado", disse o coordenador. Os sem-terra ergueram cerca de 100 barracos e hoje iniciam o cultivo de hortas. As famílias estão recebendo ajuda de igrejas e de assentamentos existentes em municípios vizinhos, como Iperó, Itapetininga e Porto Feliz. "Graças à ajuda, não tem ninguém passando fome", disse Maria Rodrigues, ajudando a servir o almoço: arroz, feijão e polenta com molho de salsicha. O acampamento recebeu o nome de Pátria Livre. Os sem-terra controlam a entrada da fazenda e de outros sítios da região. Três militantes só abrem o portão de ferro depois que o interessado se identifica como morador ou trabalhador do bairro. Ontem, a Polícia Militar não mantinha nenhuma viatura ou policial nas imediações. O administrador da fazenda, Célio Aguilera, disse que a propriedade é produtiva. "Além dos 250 bois que estão na parte invadida, há outros 200 e não haverá pasto suficiente." Parte da gleba é cultivada com mandioca, milho e feijão guaí. São cultivos próprios ou em parceria. Ele contou que um coordenador do MST o procurou um dia antes da invasão com o pretexto de arrendar parte das terras. "Eu disse a ele que teria 100 alqueires (242 hectares) depois que tirasse o gado, mas apenas para fazer a reforma do pasto. "Os proprietários entrariam ontem com pedido de reintegração de posse no plantão judiciário regional. Se a medida for concedida o MST quer negociar a desocupação. "Queremos que o Incra se comprometa a fazer a vistoria dessa terra, o que estamos reivindicando há dois anos", disse Maria Rodrigues. Segundo ela, podem ser invadidas outras fazendas da região que o movimento considera improdutivas. "Sabemos que tem muita terra sem produzir nada por aqui." O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luis Antonio Nabhan Garcia, disse que a Fazenda Santa Izabel não poderá ser vistoriada pelo Incra nos próximos dois anos. "Existe uma medida provisória que não permite a vistoria em área invadida." Segundo ele, o MST vem fazendo pressão para a revogação e contaria com o apoio do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. "Essa medida tem ajudado a reduzir as invasões criminosas e, se for revogada, será o mesmo que declarar guerra ao produtor rural brasileiro."

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