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MST promete onda de invasões até posse de Lula

Líder sem-terra diz que série de ações, de caráter político, é contra ?inércia? do governo FHC

Por Agencia Estado
Atualização:

O Movimento dos Sem Terra (MST) deverá intensificar as invasões de terras nas próximas semanas, até o final do governo de Fernando Henrique Cardoso. A ocupação da Fazenda Abrãao, em Taubaté, no interior de São Paulo, ocorrida no sábado, deve ser o início de uma série de ações de caráter político, destinadas a chamar a atenção para o não-cumprimento das metas estabelecidas pelo atual governo na área da reforma agrária, segundo informações dos líderes do MST. ?Vão ocorrer outras ocupações até o dia 31 de dezembro, quando termina o mandato do atual governo?, afirma um dos coordenadores do MST no Estado, Valquimar Reis. ?Havíamos parado para planejar nossas ações, que agora vamos colocar em prática, em defesa de milhares de famílias que estão passando fome e não podem esperar mais.? Não se trata de uma política estadual. Gilmar Mauro, da coordenação nacional do movimento, afirma que está na hora de denunciar a inércia do governo. ?Dos recursos destinados à reforma agrária neste ano, só foram usados 35%?, diz ele. ?Das 60 mil famílias que prometeram assentar, só foram 35 mil. E além disso ignoraram o total de 1 milhão de famílias que se inscreveram pela correio, à espera de assentamento.? Alvo seria Lula Do lado do governo, o ministro do Desenvolvimento Agrário, José Abrão, contesta os números dos líderes dos sem-terra e levanta uma suspeita. Para ele, ao retomar as invasões, o MST não estaria confrontando o atual governo, mas o eleito, de Luiz Inácio Lula da Silva. Nas negociações que vem fazendo com o governo de transição, o MST já teria posto sobre a mesa o desejo de ver revogada medida provisória que torna indisponível para a reforma agrária, por dois anos, as terras invadidas. Essa medida, associada aos assentamentos realizados pelo atual governo, teria inibido as ações do MST, provocando queda no número de invasões. É provável que a solução para os impasses que podem ser criados neste final de ano com invasões fique para o governo Lula. ?Da nossa parte, até o último dia de governo vamos continuar aplicando a lei e realizando a reforma agrária de forma pacífica?, promete Abrão. Ao contestar os números apresentados pela coordenação do MST, o ministro afirma que até o final de outubro foram assentadas 65.559 famílias em todo o País. Deste total, 49.479 assentamentos foram feitos pelo Incra em terras desapropriadas, obtidas ou devolutas. Outros 11.734 por meio do crédito fundiário do Banco da Terra e 4.346 com recursos do Projeto de Combate à Pobreza Rural (PCPR). Em paz ?O problema do MST é que ignora os assentamentos feitos pelo Banco da Terra, pelo PCPR e até mesmo aqueles que o Incra realiza em terras devolutas?, afirma Abrão. ?Para o movimento, só contam desapropriações nas quais os proprietários são penalizados. É como se a reforma agrária só pudesse ser feita com ódio, nunca de forma pacífica.? Ainda segundo o ministro, do total de R$ 1,35 bilhão do Incra previsto para este ano, 76% já foi aplicado. ?Até o final do ano teremos assentado 100 mil famílias?, anuncia. Em Salvador, onde se encontrava acompanhando Lula, o presidente do PT, deputado José Dirceu comentou o episódio de maneira lacônica. Sobre a invasão, disse: ?Normal?. Em seguida lembrou que os problemas devem ser resolvidos pelo atual governo. ?O de Lula só começa em 1.º de janeiro.? Na quinta-feira, durante um encontro entre representantes do MST e o professor de economia José Graziano, do governo de transição, ficou acertado que os líderes do movimento irão preparar um texto, com suas reivindicações e as formas de contribuir para a execução da reforma agrária. A liderança do MST tem dado demonstrações de confiança em Lula. ?Acredito que seremos ouvidos, o que não aconteceu no atual governo?, afirma Reis, líder em São Paulo.

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