O governo de Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a delegação das urnas para realizar uma reforma agrária de grandes proporções e deve começar a fazê-la o mais rápido possível. É esse o pensamento que norteia a coordenação nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST) e explica a intensificação das ações em todo o País - com a promessa de uma onda de invasões ainda maior e marchas em abril. Segundo o coordenador Roberto Baggio, representante do MST no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o melhor momento para a reforma é este: "O governo tem estrutura, conta com o aval das urnas e o apoio dos movimentos sociais. É uma oportunidade histórica para resolver a problemática da pobreza no campo". Baggio, que faz parte da coordenação do MST no Paraná, evitou contestar nota que o governo distribuiu na quarta-feira, criticando a ocupação de sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Mas assinalou que é impossível refrear ações desse tipo. "O que pauta a dinâmica política do MST é a problemática social, a necessidade das pessoas", afirmou. "O governo Fernando Henrique paralisou a reforma agrária e hoje existem quase 70 mil pessoas passando necessidade em acampamentos, esperando ser assentadas." O representante de São Paulo na coordenação nacional, Gilmar Mauro, também evitou a polêmica e insistiu em que os conflitos só vão diminuir com a intensificação da reforma: "Não queremos bate-boca nem radicalizar no discurso. Continuamos disposto a continuar conversando com o governo para resolver o problema". A Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), também viu nas ações dos sem-terra um sinal da gravidade da situação. Seriam "um alerta" ao governo Lula, segundo o secretário-geral da entidade, Antônio Canuto: "Não é porque apoiaram o candidato que vão deixar de lutar pela reforma". Canuto concordou com a nota do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, na parte em que condena as ações violentas do MST. "As manifestações são legítimas, desde que não sejam feitas de maneira violenta." A CPT e o MST concordam em que Lula está há pouco tempo no poder. Mas temem que a reforma agrária, prometida no programa eleitoral, seja adiada. "Ele não pode ficar cozinhando galo", disse Canuto. "Para dar conta das esperanças que foram criadas, não bastam boas intenções", endossou Baggio.