MST faz reforma agrária por conta própria

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) decidiu fazer uma reforma agrária à sua maneira na fazenda Timboré, em Andradina, interior de São Paulo, invadida na noite de quarta-feira por 53 famílias (um total de 115 pessoas) ligadas ao movimento. A fazenda foi pulverizada pelos sem-terra, que montaram barracos em praticamente todas as partes da fazenda, de 774 hectares. "Estamos loteando esta fazenda. O Incra demora a fazer a desapropriação e nos assentar, por isso, estabelecemos que cada família vai ficar com três ou quatro alqueires", disse o líder dos sem-terra, Cléber Bueno Camargo. Segundo ele, a divisão da área foi feita a olho, distribuída em comum acordo com os sem-terra, que saíram de um acampamento que existia na frente da propriedade. "Esta fazenda é nossa. Só sairemos se o Incra nos der outros lotes, senão isso aqui vai virar um campo de batalha", acrescentou Camargo. Peões da fazenda arrebanhavam hoje as últimas cabeças de gado para levá-las a fazendas vizinhas. Segundo um dos administradores da Timboré, Márcio Aparecido de Carvalho, os sem-terra deram prazo até as 18 horas de hoje para que o gado fosse retirado. "Se gente não tirar o gado, eles avisaram que vão atear fogo no curral e destruir o que resta da fazenda", disse Carvalho. Segundo ele, várias cercas já tinham sido destruídas na quarta-feira, quando os sem-terra soltaram cerca de 1.000 cabeças de gado, muitas fugiram para propriedades vizinhas e para a estrada e estavam sendo arrebanhadas hoje. "Eles estão fazendo a reforma agrária deles e nós temos que atendê-los e ficar quietos porque não temos segurança alguma", declarou Carvalho. Ele acusou os sem-terra de se apropriarem de um trator e de ameaçar os funcionários da fazenda. "Fizemos a denúncia na polícia, mas nada foi resolvido e eles continuam lá, usando o trator", disse. "Isso aqui virou uma terra sem lei", acrescentou. Os líderes dos sem-terra disseram que o trator foi emprestado e negaram ter ameaçado os funcionários da Timboré. Segundo eles, a ocupação ocorreu porque um dos donos da propriedade, Frederico Leite de Moraes, teria quebrado um acordo feito com os sem-terra que estavam acampados às margens da estrada vicinal José Rodrigues Celestino, na frente da fazenda. Na última quarta-feira, a Justiça decidiu, em liminar de manutenção de posse concedida a Moraes, expulsar os sem-terra do local. Segundo a decisão, os sem-terra devem ficar a 10 km de distância da fazenda. "O fazendeiro tinha prometido que nos deixaria continuar no acampamento, onde estávamos há um ano e quatro meses, mas depois recusou", disse Camargo. Além disso, segundo ele, os sem-terra tinham informação de os Moraes estariam negociando a venda da fazenda para o Incra. "Agora, queremos a presença do Incra, de um padre, de um juiz para começarmos a conversar", declarou. Segundo ele, a invasão deverá ser ampliada com chegada de 50 famílias do Pontal do Paranapanema e outras 200 de acampamentos do MST da região. "Esta ocupação não tem nada a ver com trégua ou com política. Foi uma decisão nossa. O MST é do povo e não de uns poucos líderes", disse Camargo. Um dos coordenadores do MST na região, Valdeci Pereira, disse que o grupo não é dissidente do movimento, mas que as famílias estão revoltadas e decidiram radicalizar porque, se tiverem de deixar o acampamento na beira da estrada, não terão para onde ir. "Por isso, eles decidiram que o melhor seria ficar dentro da fazenda", afirmou.

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