MST desocupa, mas deixa fazenda da Cutrale destruída

Tratores e caminhões foram danificados, sistemas de irrigação sabotados e a sede e seis casas depredadas

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Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

Sob um forte aparato policial, cerca de 350 militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) desocuparam nesta quarta-feira, 7, a fazenda Santo Henrique, do grupo Cutrale, em Borebi, a 320 km de São Paulo, deixando para trás um rastro de destruição.

 

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Além dos 7 mil pés de laranja arrancados, 28 tratores foram danificados ou destruídos, caminhões e sistemas de irrigação foram sabotados, a sede e seis casas de colonos depredadas e pichadas. Houve ainda furto de equipamentos, móveis, roupas e defensivos agrícolas. "A impressão é de que passou um tsunami por aqui", disse o gerente agrícola da fazenda, Claudinei Ferreti. O prejuízo de nove dias de invasão pode chegar a R$ 3 milhões.

 

Os sem-terra prometiam resistir à ordem de desocupação imediata dada na terça-feira, 6, pela justiça de Lençóis Paulista. Eles bloquearam o portão de entrada com caminhões e distribuíram galões de óleo diesel para atear fogo. Também fizeram uma pilha com pneus de trator na sala principal da casa-sede. O oficial de justiça Fernando Fabian chegou acompanhado de 120 policiais militares, em 26 viaturas, um ônibus e um helicóptero. "Estamos preparados para usar a força se for necessário", avisou o tenente-coronel Benedito Meira, comandante da operação.

 

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O líder Paulo Albuquerque, da direção estadual do MST, pediu prazo para se reunir com os sem-terra. Uma hora depois, avisou que os invasores iniciariam a desocupação. Ele informou que o grupo iria para os assentamentos Zumbi dos Palmares, em Iaras, e Agrocento, em Agudos. Quando o último sem-terra transpôs o portão, seguindo o comboio da retirada formado por cinco caminhões, um ônibus e mais de 30 carros, a PM autorizou a entrada da imprensa e de funcionários da fazenda. A Polícia Civil iniciou uma perícia no local.

 

Cenário desolador

 

O cenário era desolador. Sujeira, lixo, peças e destroços de máquinas estavam espalhados por toda parte. O cheiro de fezes se misturava ao de laranja podre. O gerente constatou que o depósito de defensivos tinha sido saqueado.

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"Por baixo, levaram mais de R$ 100 mil, justamente os produtos mais caros." As câmeras de vigilância desapareceram. Os tratores estavam depenados, sem bateria, motor-de-arranque, filtros, faróis e com a fiação cortada. "Puseram areia no motor e ligaram só para fundir", contou Ferreti. Dois tratores foram partidos ao meio, não se sabe como. Outros três estavam desaparecidos. Um caminhão foi achado no barro na beira de uma represa. Cerca de 15 mil litros de óleo diesel sumiram do reservatório.

 

As casas foram saqueadas: portas e janelas foram arrombadas e móveis, televisores, roupas, louças, utensílios de cozinha, até lâmpadas e chapas de fogão foram levados. Alguns sofás que não puderam ser carregados tiveram os tecidos rasgados. Paredes estavam pichadas com frases como "MST em ação" e "Revolucionários em Luta".

 

O motorista Edmilson Marcos, da prefeitura de Borebi, que transportou água para apagar um possível incêndio, viu um sem-terra arrancando um bebedouro para colocar sobre o caminhão. "Eles são terroristas", disse. O ex-sem-terra Alfeu Agnaldo Barbosa, que agora trabalha na fazenda, disse que os assentados da região ficaram revoltados com a destruição. "Grande parte das famílias depende da Cutrale."

 

Prejuízos

 

O gerente informou que um cálculo minucioso dos prejuízos ficará pronto em três dias. Ele estimou o custo para formar um pé de laranja de cinco anos, no auge da produção, como os que foram arrancados em US$ 200 (R$ 340) por planta.

 

Durante a invasão, pelo menos 90 mil caixas de laranja não foram colhidas e se perderam. Cada trator como os que foram danificados vale cerca de R$ 45 mil. Ferretti não acredita em ressarcimento. "Infelizmente, vamos ter de começar muita coisa do zero."

 

O delegado de Borebi, Jader Biazon, vai abrir inquérito por esbulho possessório, formação de quadrilha, furto, dano e progressão criminosa. "Temos a identificação de parte do grupo e tentaremos estabelecer as autorias." Albuquerque, do MST, não falou com a imprensa.

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Em nota, o MST estadual não se manifestou sobre as acusações de furtos e danos. Informou que as terras são públicas e cobrou: "O governo e a justiça precisam cumprir o seu papel e retomar essa área, que é um patrimônio do país e que não pode ser utilizada para o benefício privado."

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