MST amplia protestos 12 anos após mortes em Carajas

Por JULIO CÉSAR VILLAVERDE
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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) intensificou na quinta-feira, 12o aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás (PA), seus protestos exigindo a aceleração da reforma agrária. Entre as ações, incluíram-se o bloqueio de uma das maiores usinas hidrelétricas do país, a paralisação de uma linha de trem usada para o transporte de ferro, a invasão de fazendas, a tomada de pedágios em estradas e outras manifestações. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o governo está "agindo com eficiência porque não quer acidente neste percurso" e que o Exército foi mobilizado para garantir a segurança da hidrelétrica de Xingó, em Sergipe. O MST cumpre neste mês uma jornada nacional pela reforma agrária, batizando-o de "Abril Vermelho" como alusão ao assassinato de 19 agricultores em meio a uma ação policial para dispersar os manifestantes que ocupavam uma estrada de Eldorado do Carajás. "Depois de 12 anos de um massacre de repercussão internacional, o país ainda não resolveu os problemas dos pobres do campo, que continuam sendo alvo da violência dos fazendeiros e da impunidade da Justiça", afirmou o movimento em um comunicado. As manifestações de quinta-feira ocorreram um dia depois de os militantes do MST e de outros movimentos rurais terem realizado ações em vários Estados brasileiros, exigindo, entre outras medidas, o assentamento de 150 mil famílias que vivem em acampamentos. DECEPÇÃO COM LULA Na mobilização, os sem-terra criticaram também as políticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estamos protestando porque a reforma agrária foi retirada da agenda do governo e porque queremos homenagear os companheiros caídos", disse Ulisses Manaças, da Coordenação Estadual da Via Campesina e do MST no Pará, acrescentando que o governo privilegiava com suas políticas a monocultura e as grandes empresas do setor agroindustrial. Segundo Manaças, existe em todo o país uma cifra recorde de 150 mil famílias vivendo em acampamentos precários, à espera de serem assentadas, mas o governo só entregou terras públicas ou terras em regiões de difícil acesso, como na Amazônia. "A verdade é que estamos insatisfeitos (com Lula) porque, quanto à reforma agrária, houve apenas promessas não cumpridas", acrescentou, indicando que, na mobilização de quinta-feira, seriam realizadas ações em 23 dos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal. Cerca de 850 famílias bloquearam na quinta-feira a usina hidrelétrica de Xingó, no Estado de Sergipe, construída no rio São Francisco e de propriedade estatal. A usina possui uma capacidade instalada de 3,1 milhões de quilowatts. Apesar da ocupação, o ministro Lobão disse nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, que "não houve paralisação das operações". Segundo ele, "Xingó está sob controle da polícia e do Exército." Ainda, uma linha de trem da mineradora Vale interrompeu suas operações depois de ser invadida por ativistas do MST e de outros movimentos sociais. A estrada de ferro, com 892 quilômetros de extensão, transporta diariamente 300 mil toneladas de minério de ferro e outros produtos, além de 1.300 passageiros, desde a principal mina da empresa no país, localizada no Estado do Pará, até o porto exportador de São Luís. "Temos preocupação com a Vale e também com algumas hidrelétricas que sofreram essa ação do MST, como Xingó", acrescentou Lobão. O MST afirmou que também foram ocupados, na quinta-feira, postos de cobrança de pedágio em estradas de vários pontos do país e que o movimento ocupou fazendas consideradas improdutivas, as quais, segundo a lei, deveriam ser destinadas aos agricultores sem terra. "Em 2003, elaboramos o Segundo Plano de Reforma Agrária, mas o presidente frustrou nossas expectativas", afirmou Manaças, ao indicar que o movimento não esperava ver o governo mudar de atitude nos últimos três anos do segundo mandato de Lula, porque "ele é refém do modelo econômico (adotado atualmente)." "Vamos continuar (protestando). Acreditamos que a reforma agrária não é realizada porque ela se tornou inviável dentro de um modelo que privilegia as monoculturas, que receberam seis vezes mais recursos do que a agricultura familiar", acrescentou.

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