SALVADOR - O Ministério Público da Bahia requereu à Justiça nesta terça, 18, que o corpo do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto há dez dias, seja preservado para que seja submetido a novos exames periciais. A defesa de Capitão Adriano, como era conhecido o homem acusado de chefia a quadrilha Escritório do Crime, também entrou com um pedido - “mais amplo”, segundo o advogado Paulo Emilio Catta Preta. Nele, solicita a possibilidade de a família fazer uma perícia independente.
O documento do MP é assinado pelos promotores Dario Kist e Gilber de Oliveira, que atuam em Esplanada, onde Adriano foi morto pela PM da Bahia. Teve como base a revogação - pelo juiz Gustavo Kalil, da Justiça do Rio - do impedimento de cremação do corpo. A Promotoria baiana entende que é preciso preservar o corpo de Adriano para que pontos ainda obscuros sobre a operação que levou à sua morte possam ser esclarecidos por novos exames.
O impasse em torno do enterro, sepultamento ou cremação do corpo já dura dez dias . Cresce na medida em que o presidente Jair Bolsonaro e sua família repetem declarações para reforçar a narrativa de que Adriano foi torturado e executado pela polícia baiana. Ontem, o presidente defendeu a realização de perícia independente ao citar o pedido feito pelo MP.
O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, que propôs que o miliciano recebesse a Medalha Tiradentes, mais alta honraria do Legislativo fluminense, e empregou a ex-mulher e a mãe dele em seu gabinete, voltou a se manifestar sobre o caso no Twitter. Ele publicou na rede social um vídeo com imagens de um cadáver que seria de Adriano. Também voltou a provocar o governo da Bahia, comandado pelo governador Rui Costa (PT).
“Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões.”, escreveu o senador. As imagens do vídeo, porém, não mostrarem nenhum indício do que ele afirma. O cadáver aparece nu, deitado sobre o lado direito e de costas.
Segundo o Ministério Público do Rio, a ex-mulher de Adriano, Danielle Mendonça, e a mãe, Raimunda Veras Magalhães, eram funcionárias fantasmas. Fariam parte do suposto esquema de “rachadinha” (devolução do salário ao parlamentar) no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa (Alerj). O miliciano, segundo o MP, era beneficiado pelos desvios. O MP investiga os crimes de peculato (apropriação, por servidor, de recurso público), lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Investigadores da Bahia aguardam a conclusão de três laudos importantes para concluir o que ocorreu durante a operação do dia 9. Um deles é o residuográfico, que vai dizer se Adriano de fato disparou contra os agentes antes de ser morto. Outro é o resultado da perícia feita no local da morte. Há ainda a análise das armas e dos escudos usados pelos policiais.
A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança não passam oficialmente informações precisas sobre os laudos - ou quando serão divulgados. Apesar do incômodo com as declarações da família Bolsonaro e de adeptos da tese de “queima de arquivo”, há cautela para trabalhar com calma nos laudos. O objetivo é evitar brechas que permitam mais críticas. Uma fonte ouvida pelo Estado acredita que tudo possa ser concluído após a semana do Carnaval, ou seja, por volta do fim do mês.
Segundo o advogado Catta Preta, a família de Adriano está consternada" com dificuldade para dar algum destino ao corpo dele.
Telefones. O MP do Rio informou já ter recebido material apreendido em Esplanada (BA) encontrado pela Polícia com Adriano. Entre os objetos apreendidos, estão celulares que o miliciano usava para se comunicar. Tudo será submetido a perícia.
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