Movimento por sessão aberta no Senado aumenta risco para Renan

Projeto de resolução de Delcídio Amaral e Eduardo Suplicy muda regras para reunião que vai definir cassação

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Por Rosa Costa e Ana Paula Scinocca
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Brasília - Às vésperas do julgamento em plenário, na sessão que decidirá amanhã seu futuro político, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), começou a enfrentar um movimento pela identificação dos votos. Os senadores petistas Delcídio Amaral (MS) e Eduardo Suplicy (SP) apresentaram à Mesa Diretora da Casa um projeto de resolução para "abrir" a sessão. Diante disso, Renan admitiu em conversa com aliados que vive o dilema de já não saber quem está ou não ao seu lado.  Veja especial sobre o caso Renan Sem traições, Renan confidencia que sua contabilidade chega a 55 votos favoráveis à absolvição - são necessários 41 de 81 votos para aprovar o parecer do Conselho de Ética que pede a cassação do seu mandato. A dúvida, segundo aliados, é que ontem ele já não sabia até que ponto pode contar com o apoio do PT e até mesmo de senadores do PMDB. "A situação já foi mais pró-absolvição", admitiu a líder do PT, a senadora Ideli Salvatti (SC) A Constituição (Art. 55) e o Regimento Interno do Senado (Art. 197) dizem que, além de o voto dos senadores ser secreto, a sessão também terá de ser fechada - sem a presença da imprensa e de funcionários do Legislativo, só com os parlamentares no plenário. Mesmo assim, ontem alguns senadores começaram a abrir seus votos. "O voto está na cabeça de cada um. Eu vou votar pela cassação", revelou Romeu Tuma (DEM-SP). Em entrevista, Cristovam Buarque (PDT-DF) também anunciou que votará contra o presidente do Senado. O julgamento de amanhã se refere à acusação de que Renan teria tido despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Entre as despesas, pensão e aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha fora do casamento. Antes de chegar ao plenário, a denúncia foi investigada pelo Conselho de Ética, que, na semana passada, aprovou parecer em defesa da cassação por 11 a 4. FOTO DA CÉDULA De Vitória, o senador Gerson Camata (PMDB-ES) disse ao Estado que vai propor que o plenário tome amanhã, primeiro, um decisão sobre o projeto de resolução de Delcídio e Suplicy. "Se a maioria concordar com o projeto, então a sessão deverá ser aberta. Isso já vai dizer se o plenário quer condenar ou absolver o senador Renan." Mas ele revela que há outro movimento em curso: "Se a maioria não aprovar o projeto de resolução, então a votação não deverá ser eletrônica, pelo painel, mas por meio de cédula." A idéia de votar em cédula é para permitir que os senadores usem os celulares para fotografar seus votos. Um ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consultado pelo Estado sob garantia de anonimato, disse que identificar o voto, apesar de a legislação falar em voto secreto, não anula a sessão. O ministro argumenta que, ao eleitor, é dada a garantia da proteção por meio do voto secreto. Mas ele pode abrir mão desse direito, se julgar a proteção desnecessária ou inconveniente. Segundo o ministro, o eleitor só atenta contra a legalidade se pressionar os outros a adotar a posição dele. Ontem, Renan não apareceu no Senado. Passou parte do dia em casa, onde recebeu, entre outros, o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o senador José Sarney (PMDB-AP) e o deputado Augusto Farias (PTB-AL). A tentativa de Suplicy e Delcídio de alterarem o regimento para "abrir" a sessão dificilmente será bem-sucedida. O problema maior é conseguir aprovar o projeto a tempo de valer para a sessão de amanhã. "Propor abertura 48 horas antes não dá tempo. Isso tinha de ser feito há um mês", disse Tuma. "Parece mais um projeto de oportunidade do que uma proposta séria de mudança", acrescentou um descrente senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

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