BRASÍLIA – O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta sexta-feira, 29, que seu assessor parlamentar Ricardo Roesch Morato Filho, demitido ontem do cargo, criou um "ruído desnecessário" ao sugerir haver articulações no Congresso para o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O vice exonerou o auxiliar após o site O Antagonista mostrar mensagens trocadas entre Morato Filho e o chefe de gabinete de um deputado.
“Uma troca de mensagens imprudente; gera um ruído totalmente desnecessário no momento que a gente está vivendo. A partir daí a pessoa que tinha um cargo de confiança perde a confiança para exercer esse cargo”, afirmou Mourão em conversa com jornalistas na chegada ao Palácio do Planalto.
O vice afirmou ser contra um processo de impeachment e preza pelo "princípio da lealdade":“Foi uma situação lamentável. Em primeiro lugar, porque não concordo com o processo de impeachment, não apoio isso aí, como já falei várias vezes. Segundo lugar, não é a forma como eu trabalho”.
Nas mensagens reveladas ontem, o agora ex-chefe de assessoria parlamentar de Mourão convida o chefe de gabinete de um deputado não identificado para um café e menciona conversas com "os assessores de deputados mais próximos". "É bom sempre estarmos preparados", escreveu Morato Filho, segundo a mensagem divulgada pelo site O Antagonista.
O chefe de gabinete pergunta por qual motivo a preparação seria necessária. Primeiro, a pessoa identificada como Ricardo Filho alega que não seria “nada demais, articulação normal mesmo”. Em seguida, introduz um assunto e sugere a perda de força do general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência. “Sabe que Mourão dividiu a ala militar”, escreveu. “Antes Heleno dominava agora estão divididos – Capitão está errando muito na pandemia - Gal. Mourão é mais preparado e político você sabe disso."
Ontem, em nota, a Vice-Presidência repudiou a "inverdade de toda a narrativa" e negou que alguém da equipe de Mourão teria comportamento como o revelado pelo site O Antagonista. Entretanto, a demissão do assessor foi decidida pelo vice, ainda ontem, e confirmada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).
Ao jornal O Globo, Mourão contou que o funcionário negou ter disparado as mensagens e alegou que seu celular foi hackeado. O vice, porém, não acreditou na versão.
Questionado nesta sexta, Mourão disse não ter conversado sobre o assunto com Bolsonaro por se tratar de uma "questão interna" de sua equipe. Ele declarou ainda que o assunto está "resolvido e encerrado": "Eu prezo por demais o princípio da lealdade. A lealdade é uma estrada de mão dupla, ela é minha com meus subordinados, vamos falar assim, e deles comigo. No momento que isso é rompido, se rompe um ele e não dá mais para trabalhar junto".
Em entrevista ao Estadão, no último dia 15, Mourão rechaçou a tese de impeachment. “Deixa o cara governar, pô!”, afirmou ele. “Não vejo hoje que haja condição de prosperar qualquer pedido de impeachment contra o presidente Bolsonaro.”
Troca de ministro
Mourão também evitou polêmica com Bolsonaro após dizer que o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, pode ser demitido após a eleição no Congresso, marcada para 1º de fevereiro.Ontem, Bolsonaro rechaçou a possibilidade e ainda chamou seu vice de "palpiteiro".
“Não fiquem especulando porque isso só traz inquietações internas e leva incertezas para a população. O que nós menos precisamos é de palpiteiros na formação do tocante à formação do meu ministério”, disse o presidente, na quinta-feira, para apoiadores na chegada ao Palácio da Alvorada.
Questionado sobre a fala de Bolsonaro, Mourão não quis tratar do assunto: "Não vou comentar. Deixa para lá".
Na terça-feira, 26, em entrevista à CNN Brasil, Mourão reclamou da falta de diálogo com Bolsonaro. “Não há conversas seguidas entre nós. As conversas são bem esporádicas”, disse o vice, na ocasião. “Faz falta até para eu entender em determinados momentos o que eu preciso fazer.”