Morre em SP Dom Luciano Mendes de Almeida

Arcebispo de Mariana, ele estava internado desde o último dia 17 de julho no Hospital das Clínicas para tratar de um câncer no figado

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Por Agencia Estado
Atualização:

O arcebispo de Mariana, dom Luciano Mendes de Almeida, morreu neste domingo às 18h15, em São Paulo, após longa luta contra um câncer no fígado. D. Luciano, de 75 anos, estava internado desde o dia 17 de julho no Hospital das Clínicas. Seu quadro clínico apresentou piora no dia 9, o que levou à sua transferência para Unidade de Terapia Intensiva. Ele permaneceu sedado nos últimos doze dias. De acordo com o seu médico pessoal, Dalton Chamone, hematologista do HC, d. Luciano sofria da síndrome hepatorrenal, que se manifesta quando o fígado entra em falência e, conseqüentemente, os rins param de funcionar. A síndrome é causada pelo câncer no fígado. O corpo de d. Luciano começou a ser velado neste domingo, na Catedral da Sé. Na segunda, pela manhã, será realizada uma missa de corpo presente na Sé, celebrada pelo cardeal arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes. À tarde, o corpo de d. Luciano será levado de avião para Belo Horizonte e, em seguida, transportado de carro para Mariana. Ele será enterrado ainda na segunda-feira na Catedral de Mariana. A voz mansa e o sorriso constante disfarçavam o cansaço e a fraqueza física de d. Luciano, um homem de corpo franzino e ombros curvados que, aos 75 anos, carregava o peso de noites mal dormidas e de viagens contínuas. De saúde frágil e agenda sempre cheia, jamais se rendeu. Bispo em São Paulo, secretário geral e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Mariana, seus principais cargos ao longo de 30 anos de episcopado, esse jesuíta que trocou o conforto e o luxo de uma família nobre e rica por uma vida privações foi um religioso fiel à sua vocação e à Igreja. Nasceu no Rio em 5 de outubro de 1930 e entrou na Companhia de Jesus em 1947. Socorro aos pobres ?Um santo?, testemunham seus amigos. Entre eles o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, o arcebispo de São Paulo que em 1976 conseguiu de Paulo VI sua nomeação para bispo auxiliar. D. Luciano tinha 46 anos de idade e 18 de sacerdócio quando foi encarregado de cuidar da região episcopal de Belém, na zona leste da capital. Responsável pela Pastoral do Menor, varava madrugadas socorrendo pobres nas ruas. ?Chegou, um dia, a levar um mendigo para dormir em sua cama, enquanto ele se deitava no chão?, revelou d. Paulo em sua autobiografia Da Esperança à Utopia, 2001), ao explicar por que d. Luciano costumava ressonar em reuniões. Era uma cena que se repetia manhã, tarde e noite no plenário, não importando quem fosse o orador. Enquanto os bispos falavam, ele dormia. Quando chegava a sua vez, pedia um minuto e, em seguida, descrevia com precisão o que cada um havia dito e tirava sua conclusão. ?Tudo se grava em minha mente e eu leio o que disseram?, assim dom Luciano explicou o ?fenômeno psicológico? que dom Paulo não conseguia entender. Eleito presidente da CNBB em 1987, quando ainda era bispo auxiliar, dom Luciano chegou ao cargo após ter ocupado a secretaria-geral da entidade por oito anos. Somados os quatro anos do segundo mandato na presidência (1991-1995), foram 16 anos na cúpula do episcopado brasileiro. Irmão do professor Cândido Antônio Mendes de Almeida, reitor da Universidade Cândido Mendes, dom Luciano era homem afeito ao diálogo sem, no entanto, abrir mão da firmeza que as negociações exigiam. Foi contundente e firme sobretudo na defesa dos direitos dos perseguidos, como, por exemplo, no caso de padres presos e torturados durante a ditadura. Teólogo formado pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde também defendeu sua tese de doutorado em Filosofia, dom Luciano teve papel de destaque em comissões do Vaticano e em reuniões do episcopado latino-americano. Esperava-se que o presidente da CNBB fosse nomeado arcebispo de Salvador, e em seguida cardeal, quando João Paulo II o mandou para Mariana. Embora se tratasse de uma das dioceses mais antigas e mais tradicionais do Brasil - foi a primeira de Minas - essa designação foi atribuída a uma suposta falta de consideração do papa. Dom Luciano discordou. ?Estou em paz, feliz em obedecer e desejoso de servir?, reagiu, ao assumir a nova missão. Este texto foi alterado às 19h18 para acréscimo de informação.

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