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Moro desembarca em Brasília e diz que é ‘péssimo’ furar teto de gastos

Ex-juiz critica movimento do governo para aprovar PEC dos Precatórios e tenta ampliar leque de alianças com políticos da chamada terceira via; filiação ao Podemos está marcada para o dia 10

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Por Marcelo de Moraes
Atualização:

BRASÍLIA – O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro criticou nesta quarta-feira, 3, o movimento articulado pelo governo com o comando da Câmara para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios e furar o teto de gastos. Para o ex-juiz da Lava Jato, que vai se filiar ao Podemos no próximo dia 10 e deve ser candidato à sucessão do presidente Jair Bolsonaro, esse procedimento “é péssimo”.

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“Aumentar o Auxílio Brasil e o Bolsa Família é ótimo. Furar o teto de gastos, aumentar os juros e a inflação, dar calote em professores, tudo isso é péssimo. É preciso ter responsabilidade fiscal”, afirmou Moro em postagem nas redes sociais.

Moro desembarcou nesta quarta em Brasília e já experimentou um pouco dessa nova realidade política. Ao desembarcar, teve de passar por uma espécie de corredor formado por sindicalistas que protestavam contra o governo.

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro; filiação ao Podemos está marcada para o dia 10 Foto: ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO - (8/11/2018)

O ex-juiz já deflagrou uma estratégia para ampliar o leque de conversas e alianças com políticos e partidos da chamada terceira via, na tentativa de fortalecer uma candidatura presidencial desse campo. O governador de São Paulo, João Doria, vai marcar presença no ato de sua filiação de Moro ao Podemos, no dia 10.

Outro pré-candidato ao Palácio do Planalto convidado para a cerimônia é o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Essas participações, porém, não significam apoio a uma possível candidatura de Moro. Na prática, a ideia é que o grupo chegue forte até o próximo ano e defina o caminho político a seguir até abril de 2022.

Doria ainda precisa passar pelas prévias presidenciais do PSDB, marcadas para o próximo dia 21, nas quais enfrentará o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

Para aliados, Moro pode romper polarização entre Bolsonaro e Lula

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A estratégia de Moro consiste justamente em ampliar o arco de alianças. Seus interlocutores avaliam que ele está certo ao se reunir com outras forças políticas, além do Podemos, e entendem que esse é o melhor caminho para romper a polarização representada hoje pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Se ele entrar na disputa, não será candidato apenas do Podemos”, avaliou o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), aliado político de Moro. “Nesse caso, nós esperamos ter uma união com várias outras forças e partidos para apoiá-lo.”

Para o deputado Júnior Bozzella (SP), que é vice-presidente do PSL e manterá o posto no futuro União Brasil, a provável candidatura de Moro leva vantagem dentro da terceira via por ele ser conhecido nacionalmente. “O processo eleitoral no País já está antecipado. Se você pegar a fotografia do momento nas pesquisas, ela já dá um extrato. Hoje, ele é o melhor posicionado nesse campo”, afirmou Bozzella. “Você tem dois líderes extremamente populares dentro dos seus espectros. O Lula, com mais densidade na esquerda e um alcance maior na sociedade e nas pesquisas. O Bolsonaro, dentro do seu nicho mais limitado, porém fortalecido com sua base”, completou.

Na avaliação de Bozzella, além de ter projeção nacional “na mesma proporção que Lula e Bolsonaro”, Moro ainda enfrentou os dois. “Prendeu o Lula, desempoderou o PT e não se curvou aos assédios morais do bolsonarismo. Não se vendeu. E, dentro do nicho de atuação dele, também é extremamente capilarizado”, disse o vice-presidente do PSL.

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Defensor da candidatura de Moro, o deputado concorda que o grupo defensor da terceira via precisa ampliar suas conversas justamente para apresentar um nome competitivo no próximo ano. “Eu acho que Moro está determinado. Isso para mim está claro. Nos últimos 45 dias, devo ter conversado com ele praticamente todos os dias. O Moro não é um político de natureza. Ele está praticando, agora, um sacerdócio, dando uma cota de contribuição. Está procurando os deputados e fazendo a lição de casa direitinho”, afirmou Bozzella.

O senador Oriovisto disse que Moro já deu o “salto mais difícil” quando deixou de ser juiz da Lava Jato para entrar no governo Bolsonaro como ministro da Justiça. “Ali ele abriu mão da carreira, da estabilidade financeira, da segurança. Agora, acho que será menos difícil. Ele está abrindo mão de um emprego na iniciativa privada, que ele pode conseguir a qualquer instante porque tem competência para isso, em nome de um projeto político”, afirmou.

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