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Morador de Teresópolis 'não consegue olhar' foto do filho desaparecido

Mosair Gonçalves leva na carteira uma foto do garoto e da ex-mulher, que continuam desaparecidos desde a tragédia.

Por Rafael Spuldar
Atualização:

O motorista Mosair Gonçalves de Aquino, 46 anos, diz que ainda não assimilou o desaparecimento de seu filho e de sua ex-mulher, ocorrido na tragédia que atingiu Teresópolis em janeiro de 2011. Abalado, ele afirma que sequer consegue ver as fotos dos familiares que perdeu nos desabamentos. O filho de Mosair, Victor Hugo, tinha 14 anos na época do desastre, e morava junto com sua mãe e ex-mulher do motorista, a doméstica Vilma Santos Rocha, no bairro de Campo Grande, o mais devastado pela enchente e pelos deslizamentos. "Ela (Vilma) me ligou de madrugada, para dizer que a casa estava ficando cheia d'água. Depois, caiu o sinal do celular e nunca mais falei com ela. O morro desabou e soterrou tudo", diz o motorista à BBC Brasil. Mosair estava no bairro de São Pedro, onde mora até hoje, e não foi atingido pela enchente. A exemplo de outras 130 pessoas em Teresópolis, Victor Hugo e Vilma nunca foram encontrados. "Eu levo uma foto deles no porta-luvas do meu carro, mas hoje eu nem consigo olhar para ela", afirma o motorista. "Um dia passei no (ginásio municipal) Pedrão e vi que tinha umas fotos de desaparecidos, e as fotos deles (Victor Hugo e Vilma) estavam ali. Passei mal, virei o rosto e saí, não consegui olhar." O irmão de Mosair, o porteiro Wilson Gonçalves de Aquino, 44 anos, também teve pessoas próximas desaparecidas na tragédia do Campo Grande. Sua ex-mulher, a doméstica Maria Bravo Gonçalves, sumiu depois que sua casa foi soterrada. Da família de Maria, 17 pessoas desapareceram. Destas, oito corpos foram identificados. "Não tem como explicar o que se sente, isso fica só dentro do coração. Eu amava todas essas pessoas, é muita tristeza", diz Wilson. Coleta de DNA Tudo que Mosair quer é encontrar os restos mortais do filho e da ex-mulher, "para fazer um enterro digno". Ele coletou material para verificação de DNA, mas as buscas pelos familiares ainda não tiveram êxito. Além da dor da perda, o motorista lamenta ainda o fato de que, sem uma certidão de óbito, não consegue cancelar o cartão de crédito de Vilma. Com isso, as contas continuam chegando e as dívidas, que aumentaram depois da tragédia, ficam ainda maiores. Mesmo abalado pelo ocorrido, Mosair diz que não deixa de ir no Campo Grande, para rever os amigos que ficaram. "É muito triste, mas eu tenho que ir, alguém tem que ajudar o pessoal de lá." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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