Ministro de Dilma avança sobre aliados de Aécio em MG

Por PEDRO VENCESLAU E JOSÉ ROBERTO CASTRO
Atualização:

Na eleição municipal de 2008, o petista Fernando Pimentel e o tucano Aécio Neves construíram um consórcio de poder que deixou o mundo político perplexo. Um dia depois de eleger o desconhecido empresário Márcio Lacerda, do PSB, prefeito de Belo Horizonte, a dupla comemorou a vitória da "tese da aliança" e de um "projeto" que estava acima das divergências partidárias. Cinco anos depois, o senador tucano Aécio Neves roda o Brasil para viabilizar sua candidatura à Presidência em 2014 enquanto o PT mineiro avança sobre bases tucanas e já prepara o terreno para a candidatura de Fernando Pimentel ao governo do Estado. Ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e muito próximo da presidente Dilma Rousseff, Pimentel conseguiu apaziguar as disputas internas que tomaram conta do PT mineiro nos últimos anos e é, segundo dirigentes petistas, o primeiro nome do partido com chances reais de vencer as eleições no Estado. ?Fora, Anastasia?Um dos alvos principais das manifestações populares em Minas Gerais, o governador Antonio Anastasia (PSDB) - que não pode se reeleger e tem dificuldades para encontrar um candidato à sucessão - sentiu o abalo das ruas em sua base e vê legendas do campo "aecista" se aproximando do agora rival. Diferentemente de São Paulo, em Minas as manifestações populares contam com forte presença de entidades ligadas ao PT e ao PC do B, como o braço local da CUT, sindicatos de servidores públicos e entidades estudantis como a União Estadual dos Estudantes. Nas assembleias populares semanais, que chegam a reunir até três mil pessoas no viaduto Santa Teresa, em Belo Horizonte, a presença de parlamentares do PT e do PC do B é constante. Nos discursos e até mesmo nas mesas deliberativas. Nessas ocasiões os discursos pedem "Fora, Lacerda" e "Fora, Anastasia". O caso mais emblemático de afastamento da base tucana é o PSD. O partido criado pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab em 2011 integra o primeiro escalão do governo estadual, mas articula abertamente com o PT. Caciques tucanos e petistas relatam que a bancada federal da sigla "kassabista" está fechada com Pimentel. Já na Assembleia Legislativa o cenário é diametralmente oposto e os parlamentares querem sacramentar o apoio a um candidato tucano. O PT mineiro também conversa com PDT, PTB e PRB - todos da base aliada de Anastasia. Segundo um membro da executiva nacional do PDT, a posição do partido em Minas é simples: receberá o seu apoio quem oferecer um cargo majoritário na chapa. Ou seja: Senado ou o posto de vice na chapa do governador. Embora tenha apresentado o nome do senador Clésio Andrade para a disputa ao governo mineiro, o PMDB do Estado caminha para o palanque de Pimentel. "Acredito em um entendimento com o PMDB", diz Reginaldo Lopes, presidente do PT mineiro. Detalhe: em 2002, Clésio foi vice-governador na primeira gestão de Aécio Neves. A presidente Dilma Rousseff deu uma força a Pimentel ao nomear Antonio Andrade, presidente do PMDB de Minas Gerais, como ministro da Agricultura. Trajetórias"De 2002 para cá, o PT se dividiu e perdeu espaço. O Pimentel tinha um modo de fortalecer o Lula que era se aliando informalmente ao Aécio", diz o deputado federal petista Nilmário Miranda. Ele disputou o governo do Estado em 2002 e 2006. O auge da radicalização das disputas internas aconteceu em 2009. O PED (Processo de Eleição Direta)daquele ano foi marcado pela cisão entre os grupos de Patrus Ananias e Pimentel. Segundo Nilmário, essa divisão é coisa do passado. "Hoje a unidade em torno da candidatura do Pimentel é total. Ninguém no PT vai disputar com ele. Pela primeira vez em 33 anos temos chances reais de vencer a eleição para o governo do Estado." O destino de Patrus Ananias em 2014 será a disputa por uma vaga na Câmara, o que abriria a vaga de senador para o PMDB. "As disputas no PT ficaram no passado", reforça o deputado Reginaldo Lopes. Outro reduto historicamente aecista que está sendo "invadido" por Pimentel é a indústria. Como ministro, ele se aproximou de Olavo Machado, presidente da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e tem dialogado com representantes do setor que antes estavam sob a área de influência de Aécio. Lulécio e DilmasiaO cenário local será decisivo para o projeto de Aécio. Ele nunca conseguiu transferir aos presidenciáveis tucanos sua grande aprovação em Minas. O tucano, eleito senador com 7,5 milhões de votos num Estado que tem pouco mais de 10 milhões de eleitores, viu José Serra ser derrotado por Dilma Rousseff em 2010 por 58,45% a 41,45%. E esta foi a menor diferença das últimas três eleições presidenciais. Boa parte do eleitorado votou em Aécio e no PT ao mesmo tempo. O fenômeno foi batizado de "Lulécio" em 2006 e "Dilmasia" em 2010. "Agora o eleitor vai ter que fazer uma opção", diz o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Carlos Ranulfo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.