Ministro se encontrou sete vezes com pastor após receber denúncia de propina no MEC

Milton Ribeiro admitiu que teve conhecimento de 'conversas estranhas' do pastor Arilton Moura, envolvendo recursos do Ministério da Educação, mas manteve reuniões

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Foto do author Eduardo Gayer
Foto do author Levy Teles
Por Eduardo Gayer e Levy Teles
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BRASÍLIA - Após receber denúncia de cobrança de propina envolvendo pastores, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, teve pelo menos sete reuniões com os investigados. Nesta quinta-feira, 23, ele admitiu que teve conhecimento de “conversas estranhas” do pastor Arilton Moura, envolvendo recursos do ministério para escolas. As condutas do ministro e dos pastores Arilton e Gilmar Santos se tornaram alvo de um pedido de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) apresentado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. O Tribunal de Contas da União (TCU) também abriu investigação.

Como revelou o Estadão, os pastores operavam uma espécie de gabinete paralelo no MEC. O prefeito Gilberto Braga, do município de Luís Domingues (MA), relatou ao jornal que o pastor Arilton, na presença de Gilmar Santos, teria cobrado propina em ouro para facilitar acesso ao ministério.

Milton Ribeiro admitiu que teve conhecimento de 'conversas estranhas' do pastor Arilton Moura, envolvendo recursos do ministério Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Em entrevista à CNN Brasil, o ministro disse que recebeu relatos e também uma denúncia anônima sobre pedidos de recursos feitos pelo pastor em troca de benefícios no MEC, em agosto de 2021. Ele disse que repassou o caso à Controladoria-Geral da União (CGU). 

O ministro da CGU, Wagner Rosário, confirmou ao Estadão abertura de investigação em setembro do ano passado após solicitação de Ribeiro. Em nota, a CGU informou que sua apuração constatou “possíveis irregularidades cometidas por terceiros”, mas não de agentes públicos. O Estadão apurou que o investigado é o pastor Arilton. A Controladoria repassou o caso à Polícia Federal por haver indicio de “oferta de vantagem indevida” para liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A CGU abriu uma nova apuração a partir das informações divulgadas pela imprensa.

O ministro da Educação confirmou que, mesmo após receber a denúncia, seguiu recebendo Arilton no MEC, mas alegou que deixou de participar de reuniões externas com ele. Em entrevista à TV Record, ele deu outra versão: foi apenas um encontro, mas sem dizer se dentro ou fora do ministério. “Recebi uma vez, apenas. Por que? Porque a investigação é sigilosa”, disse à TV Record.

Levantamento feito pelo Estadão mostra, no entanto, que o ministro teve cinco reuniões com o pastor no MEC e ao menos duas fora da Pasta após ser informado da suspeita de irregularidade. Uma delas em outubro de 2021 em Camboriú (SC). Na ocasião, o ministro ressaltou em discurso a amizade “ao pastor Gilmar e Arilton, que estão lá em Brasília mais perto”. 

Ribeiro afirmou que se ocorreu alguma cobrança de propina foi sem seu conhecimento. “Se provar que eles fizeram, fui enganado”, declarou à CNN Brasil. Segundo Ribeiro, ele seguiu se encontrando com o pastor Arilton apenas  no ministério para não prejudicar as investigações que corriam em sigilo. Disse também que, a partir de então, se limitou a tirar “fotos com prefeitos”. Depois encaminhava o pastor para o FNDE, o órgão que seria alvo da intermediação com suposta cobrança de propina pelo religioso.

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Durante a entrevista, o ministro negou que os pastores tenham viajado com ele no avião da FAB. “Jamais esses pastores viajaram comigo na minha comitiva. Nunca entraram em um avião da FAB”, disse à CNN Brasil.

O MEC respondeu, no ano passado, via Lei de Acesso à Informação, a um questionamento sobre “voos da FAB em que ministro esteve presente” entre julho de 2020 e junho de 2021. A pasta divulgou uma planilha que registrou o pastor Arilton Moura como “convidado do MEC” em um voo da FAB, no qual também estava Ribeiro, em maio de 2021.

Ribeiro confirmou que Bolsonaro pediu para ele receber os pastores no MEC, mas negou que o presidente tenha solicitado tratamento privilegiado. As explicações do ministro ainda não convenceram a bancada evangélica, que rachou. Parte defende a saída de Ribeiro do cargo, parte ainda quer que ele dê esclarecimentos.

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O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, disse que as explicações públicas dadas até o momento pelo ministro não foram suficientes. “Solicitamos que ele possa de outra forma, por coletiva de imprensa, live, como ele achar melhor, continuar outros esclarecimentos”, disse.

Na quarta-feira, o ministro ligou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), dizendo que estava disposto a falar. Também se dispôs a comparecer em audiência na Comissão de Educação do Senado para se submeter a questionamentos. Procurado, o pastor Arilton não respondeu.