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Bolsonaro demite ministro da Defesa, Fernando Azevedo

Em nota, ministro diz que dedicou 'total lealdade' ao presidente, que pediu o cargo

Foto do author Eliane Cantanhêde
Foto do author Felipe Frazão
Por Eliane Cantanhêde , e Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA – O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, comunicou nesta segunda-feira, 29, sua demissão da pasta. A informação foi confirmada pela assessoria do ministério, em nota. Segundo o Estadão apurou, o presidente Jair Bolsonaro havia pedido a saída do ministro do cargo.

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A inteção do presidente é promover uma espécie de "dança das cadeiras" no governo, abrindo espaço para abrigar um política na Secretaria de Governo, responsável pela articulação do Palácio do Planalto com o Congresso. O mais cotado para assumir a Defesa é o atual ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto. Em seu lugar, assumiria Luiz Eduardo Ramos, que deixaria a Secretaria de Governo para um parlamentar. Entre os cotados estão o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara, e Eduardo Gomes (MDB-TO), líder no Congresso.

No comunicado, Azevedo agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro e reforçou sua lealdade ao chefe do Executivo. "Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado", informou. "Saio na certeza da missão cumprida", completa.  Na agenda do presidente consta que os dois se reuniram no início da tarde desta segunda-feira. 

Fernando Azevedo e Silva, ministroda Defesa. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A reportagem apurou que Bolsonaro pediu a saída de Azevedo após uma entrevista do general Paulo Sérgio, responsável pela área de saúde do Exército, ao jornal Correio Braziliense. À publicação, o militar apontou a possibilidade de uma 3.ª onda da covid-19 no País nos próximos meses e defendeu lockdown, contrariando o que prega o presidente, crítico a medidas de isolamento social.

Dois generais ouvidos pela reportagem afirmaram ao Estadão que Bolsonaro defendeu uma punição ao oficial, mas Azevedo não concordou. O presidente, então, pediu sua demissão.

Na nota em que informa sua demissão, o ministro frisa que preservou as Forças Armadas como instituições de Estado no período que ocupou o cargo. Há alguns meses, o entorno do agora ex-ministro da Defesa manifestava insatisfação com as reiteradas tentativas de Bolsonaro se soccorrer da imagem das Forças Armadas em momentos de crise. Esses oficiais generais, que assessoram diretamente Azevedo e Silva, diziam que o ministro tentava isolar as Forças da política. Em diferentes momentos, acuado, o presidenteu deu declarações que desagradaram. Bolsonaro se referiu à Força Terrestre, a maior delas, como "meu Exército" e disse que as Forças Armadas "decidem se vivemos numa democracia ou ditadura" e que elas estavam com o povo "ao nosso lado".

O encontrou de Azevedo com Bolsonaro durou três minutos. O tom foi seco. Bolsonaro apenas pediu: "Preciso do seu cargo." Auxiliares do ministro dizem que ele já desconfiava e que se opôs a uma tentativa de trocar agora o comandante do Exército, general Edson Pujol. Por isso, com a queda do ministro, a expectativa no Ministério da Defesa é que o comandante também saiu do Exército. Segundo um general da ativa, os comandantes são todos mais antigos (mais tempo de serviço) do que o general Braga Netto, por isso, poderia gerar uma indisposição na hierarquia militar.

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No ano passado, Azevedo recebeu críticas internas e externas por participar de um ato em Brasília a favor do governo com Bolsonaro. Na ocasião, o ministro e o presidente sobrevoaram uma manifestação a bordo de um helicóptero. Na ocasião, a assessoria de imprensa do ministério justificou a presença dele como necessária para "checar as condições de segurança" da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes. 

A segurança do presidente, porém, é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno, que não estava presente, e não pelo Ministério da Defesa.

De perfil moderado e com experiência na relação com o Congresso, Azevedo foi assessor do ministro Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal antes de assumir o cargo no governo Bolsonaro. Seu currículo, porém, é extenso e tem distintas ligações com diferentes segmentos políticos. Assumiu a Autoridade Pública Olímpica, em outubro de 2013, no governo Dilma Rousseff. Foi chefe da ajudância de ordens do ex-presidente Fernando Collor. No exterior, uma de suas funções foi no Haiti, onde exerceu o cargo de Chefe de Operações do II Contingente do Brasil na Minustah.Surpresa. A saída do ministro da Defesa pegou até mesmo aliados do presidente de surpresa, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) e o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso.

Integrantes do Exército também foram pegos de surpresa com a saída do ministro da Defesa. Segundo um general da ativa ouvido pela reportagem, a situação ainda não está clara. A demissão também surpreendeu militares da reserva que trabalham no gabinete do vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

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O deputado federal General Peternelli (PSL-SP), que é próximo de Azevedo, disse ter conversado com o agora ex-ministro na semana passada, mas não trataram da demissão. “Ainda falamos aí há uns três ou quatro dias atrás e ele não comentou nada. Agora, o general Fernando é muito discreto, reservado”, disse. Peternelli disse que tratou de amenidades com o ex-ministro na conversa, e que ele não deu nenhuma indicação de que poderia haver uma mudança brusca no ministério.

Ernesto também pediu demissão

Mais cedo, Bolsonaro recebeu o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no Palácio do Planalto. Na ocasião, o ministro colocou seu cargo à disposição. O chanceler vinha sendo contestado dentro e fora do governo. Na visão de parlamentares, especialistas e empresários, a atuação dele na pasta, considerada ideológica, prejudicou o País na obtenção de insumos e vacinas para combater a covid-19.

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Na reunião, segundo aliados, o ministro disse ao presidente estar disposto a deixar o cargo para não ser mais um problema para o governo na relação com o Congresso. Auxiliares diretos do ministro consideram que a situação é “irreversível”. Uma nova reunião está prevista para o fim da tarde. / COLABOROU ANDRÉ SHALDERS

Leia abaixo a nota de demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva:

Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado. O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira. Saio na certeza da missão cumprida. Fernando Azevedo e Silva 

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