Ministra tem gosto pelo confronto e 'pavio curto'

Defensora no Senado de Sarney e Renan nas acusações de desmandos, Ideli ao mesmo tempo sempre mostrou resistência na aliança política com o PMDB

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Por Rosa Costa , Eduardo Bresciani e BRASÍLIA
Atualização:

Escolhida articuladora política para azeitar as relações do Planalto com o Congresso, a nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ganhou no Senado um acervo de adjetivos que expressam uma personalidade pouco conciliadora: "tropa de choque" e "pavio curto".

 

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São inúmeros os episódios em que Ideli foi escalada para confrontar a oposição ou marcar território na disputa com parlamentares de outros partidos da base aliada. Ao longo de oito anos de mandato, ela foi duas vezes líder do PT e três vezes líder do bloco do governo.

 

Com a oposição, Ideli, cuja defesa do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pesou a seu favor, trocava discussões ásperas. A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) chegou a chamá-la, ao vivo, de "arrogante" e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de "ridícula".

 

A futura encarregada da articulação política do governo, vez por outra, era repreendida até pelos aliados. Certa feita o senador Mão Santa (PMDB-PI) pediu no plenário que ela "por educação, sente-se ou, aliás, é até melhor, que se retire".

 

Com relação ao PMDB, Ideli manteve uma postura dúbia. Ela contrariou parte da bancada ao tomar a frente da defesa do então presidente do Senado Renan Calheiros (AL) e do atual, José Sarney (AP), nas acusações de desmandos administrativos e uso de dinheiro público.

 

Mas sempre mostrou resistência na aliança política com o partido, sobretudo na divisão de cargos. É de Ideli o recado para que "o PMDB brinque para ver", referindo-se ao período em que Sarney dizia não querer a presidência e o PT bancava a ida de Tião Vianna (AC) para o cargo.

 

O estilo "trator" da senadora se intensificou na derrubada da CPMF no Senado. Mesmo derrotada, ela ameaçou os colegas, dizendo que eles iriam "beneficiar sonegadores" e que teriam de "assumir as consequências".

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Na defesa do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em 2006, Ideli apontou "uma tentativa de golpe" nas denúncias do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

 

Acusações. Durante o mandato, a então senadora foi acusada de usar influência política com o Planalto para repassar, entre 2003 e 2007, R$ 5,2 milhões à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-SC), para promover cursos de formação profissional.

 

Na ocasião, a suspeita era de que parte desse dinheiro foi usada em campanhas de aliados da senadora em Santa Catarina e que, para justificar os gastos, planilhas teriam sido falsificadas com "alunos fantasma". Ideli, na época, afirmou que nunca apresentou emendas em favor da Fetraf-SC, "mas, sim, emendas para fortalecer a organização dos agricultores familiares para ampliarem a sua capacidade produtiva".

 

A oposição "comemorou" a escolha de Dilma porque pode sinalizar uma nova crise entre os partidos da base, por conta da suposta inaptidão de Ideli para o cargo. "Prefiro alguém como ela, que seja mais de trombada, do que alguém dissimulado", afirma o líder do DEM, Demóstenes Torres (GO). Já o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), diz que está "acostumado a ter acordos desrespeitados, a não avançar além dos limites já conhecidos".

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