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''Minha participação foi ínfima'', diz ex-espião

Francisco Ambrósio do Nascimento: ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI); colaborador da Operação Satiagraha diz que apenas recuperou e-mails do HD de Dantas e não teve relação com grampos

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Por Sônia Filgueiras , Felipe Recondo , Vannildo Mendes e BRASÍLIA
Atualização:

Apontado como autor dos grampos ilegais contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio do Nascimento nega conhecer ou ter participado da realização de interceptações telefônicas na Operação Satiagraha. "Minha participação foi ínfima", declarou ele, em entrevista ao Estado. Integrante da equipe montada pelo delegado da PF Protógenes Queiroz, Ambrósio disse que sua função era recuperar os e-mails armazenados no computador do banqueiro Daniel Dantas, apreendido pela polícia durante a Operação Chacal. "Não sabia que era informação sigilosa, e ainda não sei. Você é que está dizendo." Seu advogado, Cleber Lopes de Oliveira, presente durante toda a entrevista, argumentou: "Se ele podia ser contratado para mexer com esse material é uma questão preliminar ainda a ser discutida". Ambrósio acrescentou que não teria capacidade técnica para grampear alguém. "Mesmo que eu tivesse trabalhado nisso, e não trabalhei, estaria totalmente defasado. Na verdade, eu sou um dinossauro." Ambrósio disse conhecer há 25 anos Idalberto de Araújo, suspeito de participar dos grampos, conforme depoimento de Paulo Maurício Fortunato Pinto, diretor afastado de Contra-Inteligência da Abin, à CPI dos Grampos Telefônicos. O ex-agente informou que recebeu R$ 9 mil, em seis pagamentos mensais de R$ 1.500, entre fevereiro e julho deste ano, por sua participação na Operação Satiagraha. A seguir, os principais trechos da entrevista. O sr. tem conhecimento de escutas ilegais na Operação Satiagraha? Todas as vezes que o assunto de escutas foi mencionado, diziam que elas demandavam decisão judicial. Em nenhum momento foi dito que houve escuta clandestina ou gravação de qualquer espécie, principalmente aqui em Brasília. Em Brasília não havia grampo? Nós não tínhamos praticamente ninguém sendo interceptado. Aqui em Brasília e fora não ouvi, em nenhum momento, a palavra escuta clandestina ou nem sequer uma determinação para que alguém da sala, da equipe da Polícia Federal, saísse a campo para fazer escuta, seja legal, seja clandestina. O sr. teve acesso, fez ou ouviu algum grampo? Aqui em Brasília esse tipo de assunto não foi ventilado na sala. O sr. só fazia a seleção de e-mails? Eu respondia expediente burocrático de 8h às 18h aqui em Brasília. Nunca saí, no início, do Máscara Negra (sede da PF, em Brasília) e depois, do prédio no Sudoeste (bairro em que a PF mantém um escritório). O sr. lia, analisava esses documentos? Eu simplesmente dava uma olhada e, se notasse que era de parte administrativa, gerencial, se fosse um organograma, uma planilha, isso era separado. Eu fazia essa triagem sem ler profundamente, porque ele (Protógenes) tinha pessoas, peritos e delegados, com experiência funcional necessária para analisar aquilo. E que fique claro entre nós. Eu estou afastado do serviço, em casa, há dez anos. Mesmo que eu tivesse trabalhado nisso (escutas legais ou clandestinas), e não trabalhei, eu estaria totalmente defasado. Na verdade, eu sou um dinossauro. O delegado Protógenes explicou por que chamou o sr. para trabalhar na operação? Pelo que eu entendi, a preocupação maior dele era que estava com um déficit de material humano. O sr. sabia que estava lidando com material sigiloso? Não. Para mim, era um trabalho operacional. E continuo não sabendo. Vocês é que estão dizendo isso.

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