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Milton Ribeiro liga para Lira e diz que se explicará sobre gabinete paralelo e acusação de propina

Presidente da Câmara já havia cobrado o ministro a dar explicações sobre o caso; integrantes do Centrão tem interesse na substituição do ministro, que comanda órgão bilionário

Foto do author Daniel  Weterman
Por e Daniel Weterman
Atualização:

BRASÍLIA – O ministro da Educação, Milton Ribeiro, ligou para o presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL) e disse que vai prestar esclarecimentos ao Congresso sobre a atuação de um gabinete paralelo de pastores dentro da pasta. Ribeiro também acertou sua ida ao Senado na próxima terça-feira, 29.

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O Estadão revelou que um pastor pediu propina em ouro e em dinheiro para facilitar o acesso de prefeitos ao MEC. Após a descoberta de que um “gabinete paralelo” de pastores se instalou na pasta, deputados e senadores acionaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) cobrando apuração da improbidade administrativa e tráfico de influência.

Parlamentares também recolhem assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) e apresentaram requerimentos para que Ribeiro se explique no Congresso.

Milton Ribeiro ligou para o presidente da Câmara Arthur Lira e disse que vai prestar esclarecimentos ao Congresso sobre gabinete paralelo e pedido de propina em ouro no MEC. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Nesta terça, 22, o presidente da Câmara já havia cobrado do ministro explicações sobre o caso. “Ele tem que se explicar em relação a isso. Não pode haver dúvidas com relação à seriedade, tanto do trabalho do ministro, principalmente da Educação, quanto do ministério”, declarou Lira em entrevista coletiva ao chegar na Câmara.

O caso tem despertado revolta até de líderes do Centrão e da bancada evangélica, que nega qualquer vínculo com Ribeiro. Integrantes do Progressistas, partido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira e Lira, são os que têm mais interesse na substituição do ministro. Hoje a legenda já exerce grande influência sobre a pasta e comanda o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão bilionário do MEC. A estrutura é presidida por Marcelo Lopes da Ponte, ex-assessor de Ciro no Senado.

Ribeiro também ligou na manhã desta quarta-feira, 23, para o presidente da Comissão de Educação do Senado, Marcelo Castro (MDB-PI), e acertou sua ida ao colegiado na próxima terça, 29. Senadores querem explicações sobre a atuação de pastores para controlar a agenda e a liberação de verbas na pasta.

A comissão deve votar um requerimento nesta quinta, 24, para convocar o ministro a prestar esclarecimentos. Diante do movimento, Ribeiro se antecipou ao concordar com a ida ao Congresso, o que pode transformar a votação em um convite. Ainda assim, o Senado o pressiona a dar explicações e critica a ausência de igualdade no tratamento das políticas do ministério.

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“O ministro da Educação, Milton Ribeiro, me ligou hoje pela manhã para se colocar à disposição para prestar esclarecimentos na CE. Na reunião desta quinta (24), irei colocar os requerimentos em votação e vou propor ao colegiado que o ministro seja ouvido na próxima terça (29)”, escreveu Marcelo Castro.

O caso motivou uma série de críticas ao ministro na sessão de terça-feira, 22, no plenário do Senado. Os parlamentares cobram uma investigação da atuação do ministério e dos pastores. “Recursos públicos não podem ser tratados com essa leviandade ou leveza toda”, disse Marcelo Castro no plenário. 

O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), os deputados Felipe Rigoni (União-ES), Tabata Amaral (PSB-SP) e o secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha (PSD), entraram com uma ação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ministro.  De acordo com o pedido, Milton Ribeiro teria cometido a prática de improbidade administrativa e o crime de tráfico de influência.

O caso ameaça permanência do ministro no governo. No Congresso, há críticas a privilégios dados com base em indicações de líderes religiosos, em detrimento de outros municípios. “Se esse governo fosse sério, com a matéria que tem hoje, com a gravação, ele não seria mais ministro”, disse o senador Omar Aziz (PSD-AM), também no plenário. “Há um discurso de honestidade, um discurso hipócrita, quando na realidade os porões de dentro do governo estão podres”.