PUBLICIDADE

Militares repudiam relatório da comissão

Generais da ativa e da reserva criticam colegiado e dizem que conclusões foram duras e contaminadas pelo viés ideológico

Por Tania Monteiro e Wilson Tosta
Atualização:
General Leônidas Pires, então ministro do Exército no governo de José Sarney Foto: Célio Jr/Estadão

Brasília e Rio - Generais da ativa e da reserva consultados nesta quarta-feira, 10, pelo Estado foram unânimes em repudiar o trabalho desenvolvido pela Comissão Nacional da Verdade. O principal argumento é o de que o grupo cometeu uma imensa injustiça. As conclusões do foram consideradas duras e desproporcionais, contaminadas pelo viés ideológico. Para os militares, pessoas já mortas, que não podem se defender, foram acusadas injustamente.

PUBLICIDADE

Os militares pretendem a princípio fazer uma leitura atenta do relatório para depois começar a articular ações judiciais de indenização moral.

O ex-ministro do Exército general Leônidas Pires Gonçalves, de 93 anos, que foi responsabilizado por ter sido chefe do Estado-Maior do I Exército de 1974 a 1976, a quem era vinculada a chefia do Centro de Operações de Defesa Interna (Codi), classificou como “hipocrisia” e uma “injustiça” a inclusão do seu nome nesta lista.

“Eu já desafiei e desafio de novo que alguém tenha sido torturado neste período em que o DOI-Codi estava sob minha responsabilidade. Este comportamento não é ético’, disse ao Estado. “O problema é que quem está no poder cria a sua verdade, que normalmente não é a verdade verdadeira e se nós fôssemos criar uma Comissão da Verdade, com certeza a história seria outra.”

Para o presidente do Clube Militar, general da reserva Gilberto Pimentel, “não se trata de defender quem violou direitos humanos”. “Também não aceitamos isso. Mas a comissão precisava tratar os dois lados de forma imparcial porque, do nosso lado, também houve mortos e direitos humanos é para todo mundo.”

Pimentel também repudiou a proposta de revisão da Lei da Anistia. “Isso é inaceitável.”

O primeiro vice-presidente do Clube Militar , general da reserva Sérgio Costa de Castro, criticou o colegiado por, segundo ele, ter alterado o período da investigação fixado em lei. “Primeiro, a comissão foi criada por uma lei que previa que ela devia investigar as violações de direitos humanos de 1946 a 1988. A própria Comissão da Verdade, por livre e espontânea vontade, limitou o tempo. Passou para 1964 a 1985”, afirmou.

Publicidade

Segundo ele, o colegiado também limitou a apuração aos crimes de agentes do Estado e distribuiu sem critério as responsabilidades pelas violações de direitos humanos. “Ignorando que subversivos, terroristas, guerrilheiros que cometeram diversas ações nesse mesmo período também cometeram violações”, afirmou.

Divisão. O relatório também serviu para acirrar os ânimos nas Forças Armadas. Houve muitas críticas internas reservadas ao atual comandante do Exército, general Enzo Peri, que, segundo militares, deveria ter assumido a postura de líder e se posicionado antes da publicação do relatório, condenando o que já se apresentava. A postura serviria como uma resposta para o público interno, que estaria se sentindo “aviltado” com as acusações contidas no relatório da comissão. A avaliação é que qualquer manifestação posterior não terá mesmo efeito.

Esta decepção, contudo, não significa que poderá ocorrer qualquer tipo de quebra de hierarquia militar.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.