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Militares repudiam ministros e lembram passado de luta armada

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Por Redação
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Militares da reserva classificaram de revanchismo a intenção de integrantes do governo de excluir torturadores da Lei da Anistia, mencionando o envolvimento de ministros com a luta armada contra o regime militar. Reunidos em ato no Clube Militar, ex-oficiais e ex-ministros repudiaram a posição defendida pelos ministro da Justiça, Tarso Genro, e dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, de que a Lei da Anistia não deve valer para torturadores. Os ministros alegam que a tortura não é crime político, perdoado pela anistia, e sim crime hediondo. "Isso faz parte de um revanchismo organizado que começa depois de 1979 no nosso país", afirmou o general Sérgio Augusto Coutinho, referindo-se ao ano de promulgação da Lei da Anistia. Ex-chefe do Centro de Inteligência do Exército, o general Coutinho afirmou que a anistia foi uma tentativa de conciliar o país, o que não estaria sendo aceito pelos que a questionam agora. "(A lei) era para marxistas-leninistas, maus, perversos, que não perdoaram a derrota que sofreram e que ocupam cargos de alto escalão no Estado", afirmou sob aplausos de uma platéia de cerca de 300 militares, entre eles o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo nos anos 70, acusado de ter torturado militantes de esquerda. O general Coutinho mencionou a presença de Brilhante Ustra, dizendo que uma atriz (Beth Mendes) "fingiu" que o reconheceu e declarou que havia sido barbaramente torturada por ele. "Ele virou emblema da tortura e não descansarão enquanto não fizerem dele o monstro de Sarajevo", disse o militar em alusão ao ex-líder sérvio Radovan Karadzic, acusado de responsável por milhares de mortes na guerra da Bósnia e que está sendo julgado pelo Tribunal Penal Internacional. FICHAS DE TARSO E VANNUCHI A pedido do general Gilberto Figueiredo, presidente do Clube Militar, o general Coutinho falou da atuação dos dois ministros durante a ditadura militar. Disse que Tarso Genro, quando jovem, integrou a ala vermelha do Partido Comunista Brasileiro, que posteriormente se aliou a Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares). "Por essa militância foi chamado a depor duas vezes, muito provavelmente no Dops, e quando pressentiu que seria chamado pela terceira vez foi para fora do país", disse o general, acrescentado que o atual ministro voltou ao país com intermediação de "duas figuras ligadas à revolução de 64", que o indicaram para fazer curso no CPOR. Ainda segundo o general, após seu retorno Tarso se filiou ao MDB mas tinha "dupla militância" com o "trotskista" PCO. "Em 1979, entrou na ala "os organizados", do PT". Quanto a Vannuchi, o general disse que pertenceu à ALN, "dissidência do PCB comandada por Carlos Marighela", e foi preso em 1971, em "um aparelho" em São Paulo. Vannuchi, completou o general, foi julgado pela Lei de Segurança Nacional, condenado a quatro anos de prisão e libertado em 1976. "Não conheço ato terrorista dele, mas a militância em organização extremamente terrorista, com todos os seus integrantes divididos em exércitos. Zé Dirceu pertencia ao terceiro exército", afirmou o general, mencionando o ex-ministro da Casa Civil. Com discurso radical, o general Coutinho vislumbrou uma "satanização" das Forças Armadas e uma tentativa de se implantar o socialismo por via democrática. O general Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército, classificou a manifestação dos ministros de "recalque pessoal transformado em problema jurídico nacional". Ministro no governo de José Sarney, o primeiro após a redemocratização do país, Leônidas evocou o argumento de que a tipificação do crime de tortura só passou a existir em 1997, depois da Lei de Anistia, e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia repetir o rei Juan Carlos e dizer a seus ministros "por que não se calam?" O general Zenildo Lucena, ministro do Exército no governo de Fernando Henrique Cardoso, disse não acreditar em envolvimento pessoal do presidente Lula com a proposta dos ministros. "Isso é coisa de membros do PT mais radicais." O presidente do Clube Militar classificou de "inoportuna e extemporânea" a iniciativa dos ministros e disse que a mudança da lei faria "voltar mágoas que não interessam a ninguém". "Sequestros e assaltos estão todos registrados e tortura não tem registro. A comprovação é mais difícil. O outro lado tem mais a perder", afirmou o general Gilberto Figueiredo. (Reportagem de Mair Pena Neto)

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