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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Miguel Reale Júnior teme que Aras vá ‘empurrar com a barriga’ investigação contra Bolsonaro

No último episódio do Por Dentro da CPI, Eliane Cantanhêde entrevista o ex-ministro da Justiça e coautor dos pedidos de impeachment de Collor e Dilma

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Por Redação
Atualização:

Nenhuma CPI, na história da República, reuniu tantas provas para responsabilizar os autores dos crimes cometidos quanto a da covid, no Senado. Inclusive o chefe do Executivo. É assim que o jurista Miguel Reale Júnior, coordenador da equipe jurídica que assessorou o colegiado, resume o trabalho da comissão. Apesar da farta documentação, ele teme que o procurador-geral da República, Augusto Aras, vá “empurrar com a barriga” a investigação preliminar aberta nesta quinta-feira, 28, contra o presidente Jair Bolsonaro. O parecer final da CPI pediu o indiciamento de Bolsonaro por nove crimes. 

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O jurista, que coordenou um grupo de advogados responsável por elaborar um parecer de mais de 200 páginas sobre os delitos do presidente Bolsonaro na pandemia, concedeu entrevista exclusiva à jornalista Eliane Cantanhêde no episódio de encerramento da série Por Dentro da CPI. 

“Fico assustado por falarmos se haverá ou não responsabilização”, disse. “Num país normal, democrático, de seriedade e moralidade administrativa essa pergunta não seria feita”, completa. Segundo ele, os atos cometidos por Bolsonaro na pandemia demonstram que a “intencionalidade era no sentido de desprezo à vida e à saúde. Isto nos deixou profundamente chocados”, afirmou.

Eliane Cantanhêde entrevista o ex-ministro da JustiçaMiguel Reale Júnior Foto: Reprodução

Um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e redator do pedido contra Fernando Collor, o jurista afirma que a principal diferença entre os crimes cometidos pelos dois presidentes afastados e Bolsonaro é a “perversidade” do caso atual. “São infrações graves à moralidade e também às contas públicas, mas não têm esse revestimento de perversidade que esse quadro demonstra”, aponta. Segundo ele, o caso de Collor foi “quase infantil”, enquanto o de Dilma “tinha problemas graves”.

“Agora é diferente. Já havia vários motivos para um pedido de impeachment do presidente Bolsonaro em razão da sua participação em atos antidemocráticos, nas ofensas que ele fez a duas jornalistas de forma absolutamente grave e com falta de decoro. Mas, creio que em relação à pandemia, é um muro fantástico de incompreensão. É difícil compreender que um homem na posição dele, de presidente da República, de responsável pela saúde de seu povo, tenha conspirado ao lado do vírus contra a saúde da população brasileira”, disse.

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