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Michel Temer recorre a José Sarney para acalmar PMDB

Bancada no Senado se diz desprestigiada e vêprivilégios concedidos ao grupo da Câmara

Por Adriano Ceolin e Ricardo Brito
Atualização:

BRASÍLIA - Em meio à votação da abertura de processo de impeachment no Senado, o vice-presidente Michel Temer pediu ajuda ao ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB-AP) para diminuir a tensão na bancada de senadores do PMDB. O grupo sente-se desprestigiado com o desenho do Ministério do novo governo, que teria privilegiado a bancada da Câmara.

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Segundo apurou o Estado, Temer mostrou-se “preocupado” com a dificuldade em arranjar espaço na Esplanada dos Ministérios para as demandas dos senadores da legenda. Até agora, o único congressista da Câmara confirmado para o novo governo é Romero Jucá (PMDB-RR) – ele deve ocupar o Ministério do Planejamento.

Apesar de não mais ocupar cadeira no Senado, Sarney ainda exerce forte influência sobre a bancada do partido. O ex-presidente da República prometeu ajuda a Temer. Filho do ex-senador pelo PMDB-AP, o deputado federal José Sarney Filho (PV-MA) deve ser confirmado como ministro do Meio Ambiente do governo Temer.

A insatisfação deve-se em grande parte à falta de confirmação da volta do senador Eduardo Braga (PMDB-AM) ao ministério de Minas e Energia, pasta da cota do Senado desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Braga, inclusive, não votou na abertura do processo de impeachment porque solicitou uma licença médica.

Liderança. Apesar de não ter mandato, Sarney ainda exerce forte influência sobre bancada Foto: Fabio Motta|Estadão

Outro foco de insatisfação é o senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O filho dele, Helder Barbalho, foi ministro da Pesca e dos Portos no gabinete de Dilma Rousseff. Ele também não recebeu indicação de que poderá ser reaproveitado no governo Temer. Como Braga, Jader também alegou problemas de saúde para não votar ontem.

A reportagem também apurou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também ficou insatisfeito com Temer ao saber que ele havia convidado o deputado Maurício Quintella (AL) para ocupar o Ministério dos Transportes, cota do PR desde 2003. Ex-líder do seu partido na Câmara, Quintella é adversário político de Renan em Alagoas.

Ao almoçar com os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) ontem, Renan teria se queixado da escolha feita por Temer para a pasta dos Transportes. Dizendo atuar como “independente”, o presidente do Senado reafirmou que não indicará ou vetará nenhum nome para o futuro governo.

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Câmara da discórdia. A principal reclamação dos senadores do PMDB é a de que a Câmara levou vantagem na negociação de cargos com Temer. Até agora, os deputados já teriam garantido os ministérios da Saúde, da Educação, do Desenvolvimento Social, dos Transportes e dos Esportes. Reservada para Gilberto Kassab (presidente nacional do PSD), a pasta das Comunicações também é vista como “cargo da Câmara”.

Há incômodo, ainda, com o privilégio dado à cota pessoal de Temer, como Geddel Vieira Lima, para a Secretaria de Governo, e Eliseu Padilha, para a Casa Civil. O desejo de Temer de enxugar e fundir cadeiras na Esplanada também causa conflito na própria Câmara.

O Solidariedade teve a promessa que ficaria com o ministério do Desenvolvimento Agrário. O problema é que a pasta vai virar uma secretaria dentro do Ministério do Desenvolvimento Social, cujo titular deverá ser Osmar Terra (PMDB-RS).