Mesa encaminha ao Conselho de Ética do Senado 4ª denúncia contra Renan

Petista que conduziu reunião diz que denúncia de cobrança de propina é 'complexa' e evita afirmar se há provas

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Por Rosa Costa e Ana Paula Scinocca
Atualização:

Oito dias depois de se livrar de um processo de cassação, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), virou ontem alvo de mais uma investigação. Por unanimidade, a Mesa Diretora do Senado decidiu encaminhar ao Conselho de Ética a quarta denúncia contra ele. De acordo com depoimento prestado à Polícia Civil do Distrito Federal e à Polícia Federal pelo advogado Bruno Miranda Ribeiro, afilhado de casamento de Renan, o presidente do Senado e parlamentares do PMDB estariam envolvidos em esquema de cobrança de propina nos ministérios tutelados pelo partido. Segundo a denúncia, o esquema beneficiava o banco BMG e outras instituições interessadas em receber autorização do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para operar com empréstimos consignados para aposentados da Previdência. Os depoimentos indicam que o ex-sogro de Bruno, Luiz Garcia Coelho, amigo de Renan, fazia a distribuição do dinheiro. A representação é assinada pelo PSOL, mesmo partido que apresentou a primeira denúncia - da qual Renan já foi absolvido -, de ter contas pagas por um lobista. A reunião da Mesa demorou cerca de uma hora e meia. Foi conduzida pelo primeiro vice-presidente, Tião Viana (PT-AC). Renan deixou o Senado para aguardar a decisão em casa. O petista leu o depoimento de Bruno à PF, no qual conta detalhes das supostas operações nos ministérios sob o comando do partido. Os seis senadores presentes opinaram que cabe ao conselho, não à Mesa, decidir se há procedimentos comprovados que caracterizem quebra de decoro parlamentar. "Trata-se de uma investigação complexa", constatou o primeiro vice-presidente. O terceiro-secretário, senador César Borges (DEM-BA), lembrou o quanto o Senado tem sido "vilipendiado" por causa das acusações contra o seu presidente. "O mal é tanto que já pensam até na extinção da Casa." DEFESA Renan afirmou que mais uma representação não faz diferença. "Com a quarta, com a quinta, com a sexta, eu sou inocente", declarou. "A inocência vale muito. O que acaba preponderando é a verdade. Eu sou inocente. Vocês sabem que eu sou inocente. Isso é uma coisa que não vai prosperar muito porque está diante da inocência de alguém." Em seguida, voltou a negar envolvimento com irregularidades: "Como é que se tira um presidente do Senado que é inocente? Esta é a pergunta que o hoje se faz no Brasil." A mesma defesa ele usou nas três outras denúncias, inclusive na primeira. Apesar de ter negado a ajuda do lobista Cláudio Gontijo para custear despesas como a pensão de uma filha fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso, a PF desmontou sua versão, ao provar que ele não dispunha do rendimento declarado. Mesmo assim, ele foi absolvido por 40 votos a 35, com 6 abstenções. A segunda representação foi inicialmente arquivada pelo relator João Pedro (PT-AM). Diante da repercussão negativa, porém, ele mudou de idéia e pedirá ao Conselho de Ética, na quarta-feira, que a deixe em suspenso, enquanto aguarda a Câmara decidir sobre o que fará com o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL). Irmão de Renan, ele vendeu à Schincariol uma fábrica de refrigerante por R$ 27 milhões, valor acima do de mercado, após o senador supostamente ter intercedido na Receita Federal e no INSS em favor da empresa. A terceira representação é a mais documentada. Nela, o usineiro João Lyra acusa o senador de ter sido seu sócio na compra de um jornal diário e de duas emissoras de rádio em nome de laranjas. O presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), ainda não escolheu um relator para o caso.

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