
15 de agosto de 2015 | 05h00
Brasília - A pressão dos setores produtivos foi um dos principais fatores para o abrandamento do ambiente político nesta semana, às vésperas das manifestações contra o governo que ocorrerão amanhã em todo o País. A ascensão do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), como contraponto à “pauta-bomba” encampada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já vinha sendo incentivada por nomes de peso do setor empresarial e entidades classistas, além de senadores que representam grande segmentos produtivos.
A mensagem que esses grupos fizeram chegar aos senadores foi a de que a piora no cenário econômico do País, com a aprovação de projetos com impactos ao Orçamento da União, teria efeito negativos nos setores em que atuam. Sob pressão, Renan começou a elaborar ainda no recesso parlamentar o pacote de medidas apresentado na segunda-feira, batizado de Agenda Brasil. Dois dias depois, o presidente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, foi pessoalmente ao gabinete do peemedebista agradecer a criação do pacote.
A aproximação entre Renan e o Planalto serviu ainda para alimentar o entendimento de que “murchou” o ímpeto no Senado em um eventual processo de impeachment contra a presidente.
O lançamento do pacote anticrise também a Renan o protagonismo político perdido desde que seu nome apareceu na lista de investigados na Operação Lava Jato. E acabou por ser determinante na que é considerada pelo governo como a melhor semana do ano, dias antes da terceira manifestação contra o governo nas principais cidades do País.
O Executivo conseguiu acumular uma série de fatos políticos positivos, como a extensão do prazo de defesa da presidente Dilma Rousseff no TCU; e a decisão do STF de que as contas de governo da petista devem ser julgadas pelo Congresso, e não apenas pela Câmara, como defende o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Desde a eclosão dos protestos, o governo patinava para emplacar uma “agenda positiva”.
Na avaliação de governistas, Dilma, ao encampar a agenda de Renan, voltou a ter condição de criar uma agenda positiva pós-ajuste e diminuiu o isolamento político em um momento de instabilidade e baixa popularidade do governo. O pacote foi crucial para acuar a base aliada na Câmara, que vinha atuando contra o governo por meio da pauta-bomba. Muitos empresários passaram a pressionar os deputados para evitar que o ambiente político contaminasse a economia.
Ambiente. “As ações que a Câmara toma hoje cria um ambiente muito ruim para os negócios do Brasil”, ressaltou o senador Blairo Maggi (PR-MT), representante de um dos maiores grupos produtores de soja do País. “Não se podia esperar uma reação diferente da que foi tomada pelo presidente do Senado.”
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que disputou o governo de São Paulo no ano passado pelo PMDB e é próximo do vice-presidente Michel Temer, também teve papel relevante. Segundo relatos, ele e Renan têm tido conversas frequentes, por telefone, ocasiões em que Skaf tem retratado o humor do mercado. No último mês, Renan também esteve com o presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau, ocasião em que ouviu relatos desanimadores sobre os efeitos da atual crise.
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