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Mensagens mostram criação da República em tempo real

Projeto EstadãoRepública130 conta, por meio de tuítes, os momentos finais da Monarquia no País

Foto do author Marcelo Godoy
Por Marcelo Godoy e Paula Reverbel
Atualização:

Vestido como um civil, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro saiu pelas ruas do centro do Rio espalhando uma mentira: a prisão do marechal Deodoro da Fonseca e do tenente-coronel Benjamin Constant. A audácia do governo imperial na afronta ao Exército não teria parado na prisão dos dois líderes: o gabinete do visconde de Ouro Preto se preparava para transferir batalhões da guarnição do Rio para destinos distantes no Império. A notícia falsa se espalhou como poeira ao vento na Rua do Ouvidor e foi parar nos quartéis, inquietando a tropa. 

'Proclamação da República' (1893), de Benedito Calixto Foto: Pinacoteca do Estado de São Paulo

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A evolução hora a hora dos acontecimentos que levaram à queda da Monarquia e à Proclamação da República estará nas últimas horas do projeto EstadãoRepública130. Iniciado em 15 de outubro, ele tratou os 30 últimos dias do Império por meio de tuítes de 13 personagens históricos e do perfil Pipocas, que reproduzia seção em versões satíricas mantidas pelo jornal – as publicações também podem ser acompanhadas pela hashtag #ER130 ou pelo perfil @_vivarepublica_, que reúne os tuítes de todos os personagens do projeto. 

A fake news do major Sólon foi o estopim que levou a tropa aquartelada em São Cristóvão a deixar o lugar e rumar em direção ao Campo de Santana, onde ficava então o quartel-general do Exército e a Câmara Municipal do Rio. Adoentado, o marechal Deodoro da Fonseca deixou sua casa, também localizada no Campo, apanhou uma caleça e rumou em direção à tropa. 

Já nas últimas horas do dia 14, o visconde do Ouro Preto, que chefiava o gabinete, é alertado pelo ajudante-geral do Exército, o marechal Floriano Peixoto, de que se tramava algo no Rio, mas o militar diz ao político liberal que ele não devia se preocupar. Horas mais tarde, o visconde pede ao chefe de polícia, José Basson de Miranda Osório, que verifique as tramas que se processavam na cidade. Era tarde. 

O jornalista republicano Quintino Bocaiuva se junta aos revoltosos que rumam ao Campo de Santana. Ouro Preto ordena que use a energia necessária contra os rebelados, mas Floriano Peixoto se recusa a agir contra os revoltosos. Amanhece e diante do quartel do Exército estão pouco mais de mil homens sob o comando de Deodoro da Fonseca. Protegendo o lugar estão cerca de 2 mil militares, inclusive com artilharia. 

Ouro Preto e os membros de seu gabinete vão ao quartel para lidar com a situação e acabam detidos depois de Floriano se recusar a atirar na tropa que se opunha no Campo de Santana. Na confusão, o ministro da Marinha, o barão de Ladário, é baleado por um dos homens de Deodoro. 

Os tuítes dos personagens vão ainda mostrar o encadeamento dos fatos, incluindo a decisão de d. Pedro II de partir de Petrópolis para o Rio, a fim de tentar contornar a rebelião. O monarca decide, então, reunir o Conselho de Estado e busca formar um novo gabinete. Mas o marechal Deodoro recusa o primeiro nome sugerido para substituir Ouro Preto, Silveira Martins, e se compromete com os republicanos, que haviam proclamado na Câmara Municipal a República na tarde do dia 15 de novembro – o texto da proclamação fora redigido por José do Patrocínio, abolicionista e diretor do jornal A Cidade do Rio

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Imprensa

Durante todas as últimas horas da Monarquia, fica evidente pelos tuítes dos personagens a importância dos jornais republicanos para a vitória do movimento. No Rio, o Diário de Notícias de Rui Barbosa, e O Paiz de Quintino Bocaiuva e, em São Paulo, A Província de São Paulo (mais tarde O Estado de S. Paulo), então dirigido por Rangel Pestana, estavam no centro dessa rede que articulou os clubes republicanos nas províncias do Império. 

Foi neles e em jornais como Correio Paulistano, Jornal do Commercio, Gazeta de Notícias e O Mequetrefe – todos disponíveis na hemeroteca da Biblioteca Nacional – que o Estado fez a pesquisa para o projeto EstadãoRepublica130, além de consultar a bibliografia sobre o período, historiadores, cientistas políticas e pesquisadores. 

Assim foram produzidos cerca de 850 tuítes e escolhidas as caricaturas, as fotos e as reproduções de páginas de jornais da época que compuseram o projeto. O major Sólon, o homem que espalhou as notícias que provocaram o levante, levaria mais tarde ao imperador a comunicação para que d. Pedro II e sua família partissem para o exílio na França. Ao lado dele, estava o alferes Joaquim Ignacio Cardoso, avô do futuro presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

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