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Menos de 30% das pessoas são normais, mostra estudo

Por Agencia Estado
Atualização:

Quem é normal? Se o critério de resposta for o estudo da equipe do Laboratório de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC), apenas 26,4% das pessoas são normais. A porcentagem foi encontrada por acaso. Na verdade, o levantamento do HC tem como objetivo testar os efeitos do antidepressivo cloripramina em voluntários sem nenhum transtorno psiquiátrico. O problema é que, de cada 100 pessoas que se apresentam para participar, cerca de 80 são dispensadas por não preencherem alguns requisitos básicos. E o principal deles é justamente ser normal. Não é fácil passar pela triagem. Para passar na seleção da equipe, é preciso enfrentar três etapas rigorosas e padronizadas. A primeira elimina o maior número de candidatos (53%). Ela baseia-se em critérios de idade (é preciso ter entre 21 e 50 anos), de escolaridade (exige-se 1.º grau completo) e num teste americano chamado Self Report Questionary, ou SRQ, de 20 perguntas. Aparentemente simples, ele é capaz de detectar se a pessoa tem ou não transtornos psicológicos. As chances de acerto são de 80%. O teste é mais implacável com as mulheres. Há uma diferença de dois números em favor dos homens na pontuação de corte - seis respostas "sim" para eles e quatro para elas. "Temos de ser mais duros com as mulheres porque elas têm maior oscilação hormonal e mais facilidade em falar de intimidades", explicou a psiquiatra Mônica Vilberman, uma das responsáveis pela segunda etapa do estudo, uma entrevista de 40 minutos que causa a eliminação de 43% dos candidatos. Nessa fase, psiquiatras investigam se há transtornos psicológicos na família do entrevistado. As últimas etapas são exames laboratoriais e mais uma entrevista com o psiquiatra, só que dessa vez com quatro horas de duração. "No total, ficam só 26,4%", afirmou a psiquiatra Elaine Henna. É o fim da maratona: o candidato finalmente recebe um "atestado" de normalidade. Desde que o estudo começou, há um ano e meio, 40 pessoas resistiram até o fim, menos da metade do necessário. Depois da triagem, são oito semanas de estudo, nas quais o candidato toma doses mínimas de cloripramina, de 10 a 40 miligramas - em pessoas depressivas, são aplicadas de 150 a 300 mg. A depressão, por sinal, é até agora a doença mais comum entre os eliminados (46%). Ansiedade veio depois (21%), seguida de obsessões (8%). "Se um determinado transtorno, como timidez e ansiedade, não prejudica aos outros e ao próprio portador dele, não é preciso se preocupar", tranqüiliza o psicanalista Ailton Amélio, da USP. "O normal é não ser normal."

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