Mendes diz ter avisado Lula sobre grampos ilegais da PF

Segundo presidente do STF, Lula também teria ficado incomodado com a 'falta de controle' da corporação

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Por CAROLINA FREITAS
Atualização:

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, afirmou nesta terça-feira, 24, ter avisado ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desde o início da Operação Satiagraha, sobre suas suspeitas em relação aos métodos de investigação da Polícia Federal (PF), que incluiriam escutas telefônicas ilegais feitas com a assessoria informal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "Eu disse ao presidente: 'Estou chocado com o quadro de anarquia que se estabeleceu. O senhor tem de estar preocupado'."

 

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Segundo ele, Lula também teria se mostrado incomodado com a "falta de controle" da corporação. Durante sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, na capital paulista, Mendes atribuiu ao ex-diretor da Abin Paulo Lacerda uma tentativa de "instalar o estado policial" no País. O presidente do STF diz também ter sido alvo de grampos.O presidente do Supremo voltou a apontar "conotação política" na prisão do sócio-fundador do Banco Opportunity, Daniel Dantas, em julho passado, por determinação do juiz do Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo, Fausto De Sanctis. A prisão desencadeou uma disputa entre o tribunal regional e o STF. Duas vezes De Sanctis mandou prender Dantas e duas vezes Mendes mandou soltá-lo. "O objetivo era único: desmoralizar o Supremo Tribunal Federal apostando que a opinião pública respaldaria aquele tipo de decisão (de prender Dantas)", disse o ministro, exaltado. "Se esse tipo de decisão pudesse subsistir no Brasil, hoje o juiz do Brasil seria De Sanctis e a Justiça Federal de São Paulo."Questionado sobre quem teria interesse em desmoralizar a corte suprema, Mendes evitou citar nomes, mas apontou que havia uma orientação aos desembargadores do TRF para não conceder habeas-corpus, nem prestar informações às instâncias superiores nesse caso. "O juiz se recusou a prestar informações ao ministro Eros Grau, dizendo que o processo era sigiloso. Não há sigilo para outro juiz", disse. "Quem começa a imaginar que pode enfrentar o tribunal a que está vinculado já está operando em outros paradigmas."PolêmicasO ministro evitou comentar processo de extradição do ativista de esquerda italiano Cesare Battisti, que recebeu asilo do ministro da Justiça, Tarso Genro, mas deixou claro que a decisão do STF precisará ser cumprida por Lula, seja qual for. "Se houver a extradição, será compulsória. O presidente deverá executá-la", afirmou.Gilmar Mendes ainda reforçou as críticas ao repasse de verbas do governo federal ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dizendo que isso pode dar origem a grupos paramilitares no campo. "Essas organizações, mediante subsídio público, podem perpetrar a morte, o que pode levar a fenômenos que não queremos ver, como organizações paramilitares."

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