Médicos Sem Fronteiras reduz presença no Brasil

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Por Agencia Estado
Atualização:

Parte da organização internacional Médicos Sem Fronteiras começa a deixar o Brasil, onde, por mais de 10 anos, atuou nas comunidades indígenas, principalmente da Amazônia. O grupo, que nos últimos meses estava reduzido a 15 profissionais, transferiu-se para o Peru, mas manteve a base do Rio de Janeiro, que desenvolve trabalhos no Estado e no interior de São Paulo. Desde 1991, quando o cólera chegou ao Brasil pelo Rio Solimões, os Médicos Sem Fronteiras atuam em áreas indígenas. Pouco depois, quando o surto da doença já estava normalizado, a organização passou a trabalhar no combate à malária, principalmente em Roraima e Amazonas, com grupos ianomâmis. Na última semana, foi concluído um projeto na cidade de Tefé (AM), encerrando as atividades entre os indígenas. "Quando chegamos, em 91, havia a falta de atendimento. Chegamos em uma fase emergencial e ficamos por 10 anos, mas agora o governo já instalou seus distritos sanitários, o que é uma boa iniciativa", avalia o coordenador geral do núcleo holandês dos Médicos Sem Fronteiras - sediado em Manaus - David Kaisel. "O governo, ao assumir a questão da saúde indígena, começou a prestar atenção ao problema." Problemas Sendo talvez a mais conhecida organização não-governamental de ajuda humanitária do mundo, os Médicos Sem Fronteiras vão realizar o mesmo trabalho desenvolvido no País em outras regiões da América Latina. No Brasil, além das questões políticas e o preconceito por serem estrangeiros, os membros da ONG também enfrentaram as diversidades locais, como as grandes distâncias percorridas na floresta, muitas vezes inóspita. "Para nós, muitas vezes é mais fácil trabalhar em uma zona de guerra", observa Kaisel. Segundo ele, no Brasil existem vários setores trabalhando com a questão da saúde indígena, além da classe política. "Na guerra temos um só ator, mas aqui são vários", avalia o coordenador dos Médicos Sem Fronteira. "Mas isso não deixa de ser uma vantagem." Apesar do trabalho reconhecido internacionalmente, a organização chegou a ser espionada pelos militares durante algum tempo, além de sofrer restrições. "Houve momentos em que tivemos que reduzir nossas atividades, por causa do nacionalismo." Nos 10 anos de Brasil, o núcleo holandês, que ficou exclusivamente atuando entre os índios, trabalhou no combate à cólera e malária, inclusive entre índios arredios no Rio Javari, no Amazonas. Hoje, as atividades foram transferidas para organizações indígenas. Na Amazônia, permanecerá apenas David Kaisel, mesmo assim desvinculado da entidade. O núcleo do Rio de Janeiro dos Médicos Sem Fronteiras, administrado pela sessão belga da organização, continuará suas atividades, especialmente na região Sudeste. Mas entre os índios, a última atuação ocorreu ontem, quando os três profissionais estrangeiros que ainda estavam no Brasil deixaram o País.

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