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Médicos estudam uso de botox contra enxaqueca

Por Agencia Estado
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Uma pesquisa realizada por três universidades federais brasileiras quer checar o efeito da toxina botulínica (Botox), a mesma usada para prevenir rugas em clínicas estéticas, no tratamento da enxaqueca - uma dor de cabeça que chega a afetar 18% das mulheres e 6% dos homens no mundo. O estudo será iniciado até o fim deste ano e vai testar a droga em um grupo de 60 pessoas - divididas entre Rio, Curitiba e Porto Alegre - durante 12 meses, para saber quais são os efeitos da substância na prevenção de crises de enxaqueca. A eficácia deste tipo de aplicação do Botox já foi comprovada pela Universidade do Texas (EUA) no ano passado. Mas o estudo das universidades federais Fluminense, do Paraná e do Rio Grande do Sul será a primeira análise científica brasileira sobre o assunto. "Eu estou testando e acho que o benefício é duplo. Ele (Botox) pode ajudar a acabar com a minha dor de cabeça e ainda ajuda a reduzir as rugas", afirma a psicóloga carioca Marcia Martino, 43 anos, que há 20 sofre com enxaqueca e há cerca de um mês começou a ser tratada com a substância por seu médico particular. "Acho que ainda é cedo para saber se o efeito foi realmente causado pelo Botox, mas, sem dúvida, houve melhora." Ela conta que a dor de cabeça já atrapalhou sua vida várias vezes. "Já cheguei a ter que faltar o trabalho por causa dela. Algumas vezes evitava faltar, mas não conseguia me concentrar no que estava fazendo. A dor é tão intensa que, mesmo com muitos analgésicos, não passa. É enlouquecedor", diz. Na metade dos anos 90, a toxina botulínica começou a ser usada para o tratamento de rugas em clínicas dermatológicas e estéticas. Como ela impede a liberação de um neurotransmissor (acetilcolina), bloqueando a transmissão nervosa, os médicos resolveram usá-la para relaxar os músculos do rosto e, com isso, prevenir as marcas de expressão. O teste deu certo. Foi então que, recentemente, um médico italiano que fazia aplicações estéticas de Botox em sua clínica notou que várias pacientes relatavam melhoras em suas dores de cabeça. A observação virou um artigo científico e, agora, Botox começa a ser usado experimentalmente nos consultórios de neurologistas que tratam enxaquecas. "É preciso ser dito que tudo isso é muito novo, mas há provas reais de que o Botox tem efeitos sobre os mecanismos da dor", afirma o neurologista Jano Alves de Souza, um dos organizadores do estudo. O uso de Botox para tratar enxaquecas ainda não foi aprovado pela FDA (a agência norte-americana que regula alimentos e drogas nos EUA). Ela aguarda mais indícios científicos de que o remédio realmente funciona e não apresenta riscos para os pacientes. No Brasil, o mesmo ocorre: o Botox tem registro apenas para ser usado na prevenção das rugas. Mas os médicos avaliam que os riscos das vítimas de enxaqueca quando submetidas ao tratamento de Botox são pequenos, já que o uso é muito semelhante ao que é feito para prevenir as rugas. As doses e a freqüência das aplicações são quase as mesmas, e até hoje não houve registro de efeitos colaterais muito perigosos pelo uso estético do Botox. "É claro que, em medicina, sempre é bom esperar entre cinco e dez anos para ter certeza de alguma coisa", afirma Souza.

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