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Médicos esquecem de nutrição do paciente, mostra pesquisa

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Por Agencia Estado
Atualização:

Muitos pacientes internados em hospitais do País podem morrer ou demorar mais tempo para voltar para casa porque os médicos não se preocupam em alimentá-los bem. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa que se tornou tese de doutorado aprovada nesta quinta-feira no Hospital das Clínicas (HC), feita com 4 mil pacientes de hospitais públicos e particulares. Nas regiões Norte e Nordeste, o índice de pacientes internados por qualquer outra doença que estavam desnutridos era de 63,9%. No Sudeste, a taxa constatada foi de cerca de 45%. "Os médicos começam a se especializar demais e esquecem as coisas básicas, como alimentação", diz a autora da tese, a cirurgiã da Fundação Mario Penna, de Belo Horizonte, Maria Isabel Correia, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nutricão Clínica, Parenteral e Enteral. Isso faz com que quase triplique a taxa de mortalidade entre os pacientes desnutridos - 12% deles acabaram morrendo, enquanto o índice entre os nutridos foi de 4,2%. O tempo de internação aumenta de 10 para 16 dias em pacientes que não receberam alimentação adequada. Além de trazer mais custos, isso causa uma menor rotatividade de leitos. Segundo Maria Isabel, o problema começa no ensino de medicina das faculdades, que dedica uma ínfima carga horária para nutrição. Na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), fisiologia da nutrição é dada em um semestre, logo nos primeiros anos. Depois disso não se discute mais o assunto. Segundo a professora da USP Maria do Patrocínio Nunes, a preocupação com a nutrição do paciente não faz parte do cotidiano do médico. "Muitos imaginam que as enfermeiras estão cuidando disso. Somos treinados para fazer o diagnóstico e não para cuidar do contexto geral do paciente." Para ajudar na recuperação do doente, a nutrição hospitar precisa ser individual. É a chamada terapia nutricional que, segundo a pesquisa, foi feita com menos de 5% dos pacientes. O que ocorre em muitos hospitais é que os doentes recebem alimentação comum, por via oral, sonda ou veia, que não foi elaborada para melhorar o seu estado de saúde. Os longos períodos de jejum aos quais são submetidos para exames e cirurgias agravam a desnutrição. Há também os cerca de 30% deles que já chegam desnutridos ao hospital porque a doença muitas vezes inibe o apetite. A calígrafa Angela Cristina Carmona teve de chamar a nutricionista do Hospital Albert Einstein para pedir que mudassem a sua alimentação. Ela estava grávida de sete meses e foi internada por causa de uma forte diarréia. "Me davam suco de mamão com ameixa, que era ótimo para grávidas, mas tudo que eu não podia tomar." Além da desnutrição hospitalar, a falha na educação dos médicos causa complicações no consultório. Segundo a professora da USP, muitos têm dificuldades em orientar dietas para pacientes com colesterol alto e hipertensão, por exemplo. Para o conselheiro do Conselho Regional de Medicina Carlos Rodolfo Carnevalli, a cadeira de nutrição deveria ser tão importante quanto a de anatomia na formação dos médicos.

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