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Medicamentos causaram inflamação muscular

Corticoides utilizados na quimioterapia são as causas mais prováveis da miopatia, dizem os médicos

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Por Emilio Sant'Anna e Roberto Almeida
Atualização:

Os corticoides utilizados no tratamento de quimioterapia são as prováveis causas da miopatia que atingiu a ministra Dilma Rousseff. A informação foi confirmada ontem ao Estado por médicos do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde a ministra foi internada e medicada com analgésicos. A doença se caracteriza pela inflamação muscular, geralmente dos membros inferiores, como o que aconteceu com Dilma. É bem menos comum do que a queda de cabelo, anemia ou náuseas, mas também é um problema previsto pelos médicos durante o tratamento de quimioterapia ao qual a ministra se submete desde que um tumor linfático foi descoberto em sua axila. De acordo com especialistas ouvidos pelo Estado, apesar de causar fortes dores, o problema pode ser facilmente contornado. "É um efeito colateral incomum, mas pode ser tratado com anti-inflamatórios e a readequação dos próprios medicamentos utilizados na quimioterapia", explica o oncohematologista do Hospital da Santa Casa, Carlos César Chiattone. Os efeitos não desejáveis, como queda de cabelo, náuseas e anemia costumam acompanhar o tratamento da maioria dos pacientes oncológicos que passam pela quimioterapia. O principal motivo é a ação dos medicamentos que não se restringe apenas aos órgãos afetados pelo tumor. Assim que são introduzidas no organismo do paciente, as drogas contra o câncer circulam por praticamente todos os órgãos. Como o "alvo" desses medicamentos são as células do tumor que estão em constante divisão, outras com as mesmas características também são afetadas. Apesar de não ser tão comum, a miopatia é um desses resultados colaterais previstos pelos médicos e uma das causas é a presença de corticoides nos medicamentos. "Os efeitos mais comuns são mesmo a queda de cabelo, as náuseas e a queda no número de plaquetas no sangue", diz Chiattone. "Mas alguns pacientes podem ter a miopatia, assim como outros podem ter uma cardiopatia. Por isso mesmo eles são acompanhados de perto." ACOMPANHAMENTO Os efeitos podem divergir de paciente para paciente, mas os cuidados devem ser os mesmos. "As consultas que se seguem à quimioterapia avaliam principalmente o sucesso do tratamento e depois os efeitos não desejáveis", diz Chiattone. Nas próximas sessões de quimioterapia, os médicos do Sírio Libanês devem ajustar a dose dos medicamentos utilizados para que o problema não aconteça novamente. Por enquanto, após a administração de analgésicos, a expectativa dos médicos é que a inflamação muscular ceda naturalmente. Segundo o oncologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Hakaru Tadokoro, a miopatia não é um dos efeitos colaterais mais graves durante a quimioterapia e já existem drogas mais modernas que evitam que esses problemas aconteçam. Quanto ao efeito dos corticoides, o médico diz que pode ser causa, mas lembra que cada paciente reage de forma diferente ao mesmo medicamento. Segundo o oncologista e mastologista Roberto Hegg, do Hospital das Clínicas (HC), o tumor linfático de Dilma foi descoberto a tempo e não deve comprometer outras áreas do organismo, como os seios. "Ela tinha apenas um nódulo nas axilas, sem relação nenhuma com a mama", diz. A ministra deve receber alta hoje.

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