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Matar ou morrer

Por João Domingos
Atualização:

Dizer, como têm dito alguns ministros e auxiliares do presidente Michel Temer, que o resultado da eleição municipal de domingo sepultou a tese do impeachment é forçar um pouco a barra. Até porque a tese do impeachment é política e será repetida por aí até que os partidos de oposição percebam que está superada, como já estava superada na eleição quando o PT tentou nacionalizar a campanha e deu com quase todos os seus burros n’água.

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Agora, dizer que o resultado da eleição municipal deu uma força que nem o governo esperava à agenda ultraliberal do governo de Temer, não há dúvidas de que deu.

Não que a população tenha ido às urnas manifestar apoio incondicional ao projeto de governo do PMDB, divulgado em novembro do ano passado, baseado em privatizações e reformas do Estado, e que se chama “Uma ponte para o futuro”. 

A força que as urnas deram ao governo, para que faça as mudanças, veio de forma indireta. Ao rejeitar o PT e os partidos a ele coligados, a sociedade disse um não aos esquemas de corrupção montados por boa parte das legendas de oposição e que estão no governo, conforme revelam as investigações da Operação Lava Jato. Se a rejeição atingiu diretamente o PT, e não partidos que também estão enrolados no mesmo esquema, como o PMDB e o PP, foi porque a marca da corrupção ficou mais forte no Partido dos Trabalhadores. 

E isso tem uma lógica muito clara, que nada tem a ver com a tese petista de que a Lava Jato foi criada para destruir o partido e todos os seus, em especial o ex-presidente Lula. É que o PT era o partido que estava no poder. Contratos, concessões, aditivos, tudo o que está sendo investigado era assinado pelo governo, que era do PT. 

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O partido acabou também recebendo a marca do mau gestor, um gestor que quebrou o País depois de ter prometido uma coisa na campanha e ter feito outra. Para piorar as coisas, ao reagir às suspeitas de corrupção e ao impeachment, o PT acabou se isolando em posições sectárias, nas quais quem não fosse contra o processo de impedimento de Dilma Rousseff era golpista. 

Tal argumento foi tão repetido em discursos na Câmara e no Senado, na Comissão Especial do impeachment, cujas sessões foram transmitidas ao vivo pela TV, e nos comícios da campanha, que o efeito na população foi o contrário do que os petistas pretendiam. O clima de radicalização aumentou e a resposta apareceu nas urnas. 

O resultado final – e isso não se pode negar – beneficiou os partidos que dão apoio ao governo. Praticamente todos cresceram, em especial o PSDB e o PSD. Até legendas inexpressivas, como o PRB, se tornaram competitivas. Se, em São Paulo, Celso Russomanno ficou para trás na disputa pela Prefeitura, no Rio de Janeiro o senador Marcelo Crivella chegou à frente no primeiro turno, e continua à frente no segundo turno.

Diante desse quadro, Temer ganha poder para exigir dos parlamentares que fazem parte de sua base que votem nas propostas da agenda ultraliberal. E estes se sentem livres para aprová-la. 

A razão é muito simples: as propostas liberais do governo são os planos A, B e C de Temer. Portanto, não há volta. Ou Temer as aprova, e faz o ajuste fiscal e tenta tocar uma política econômica que venha a gerar empregos, ou acabou o governo. 

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Os parlamentares aliados ao Palácio do Planalto sabem disso. Vão criar um caso aqui, outro ali, exigir a nomeação de um aliado para um ministério ou uma estatal, mas acabarão votando a favor dos projetos. Se existe uma coisa que político tem é instinto de sobrevivência. Eles sabem que, como o governo de Temer, não dispõem de alternativa, a não ser votar, aprovar e torcer para que as medidas deem certo. 

O exemplo do fracasso do PT está bem fresquinho, à vista de todos.