Marta e Kassab esquecem planos e chamam um ao outro de mentiroso

Em debate tenso na TV, candidatos passam mais tempo em ataques pessoais do que discutindo propostas

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Por Guilherme Scarance
Atualização:

Frente a frente no primeiro debate televisivo do segundo turno, ontem à noite, os finalistas da corrida municipal em São Paulo acusaram um ao outro de mentir. Entraram em tanta polêmica a ponto de paralisar o programa da Band, em uma briga por direitos de resposta. Marta Suplicy (PT) seguiu à risca a estratégia da sua equipe de marketing de tentar desconstruir a imagem do adversário, alegando que há um Gilberto Kassab (DEM) real e outro fictício, que promete na TV o que não faz como prefeito e ainda esconde a trajetória. O prefeito, que prometera uma linha propositiva durante o encontro de ontem, também endureceu o tom, disparou contra a concorrente e fez provocações. A duas semanas da votação final, no dia em que também voltou o horário eleitoral gratuito, o que se viu foi uma intensa troca de farpas, além da tradicional enxurrada de números e comparações, que já havia ocorrido nos três debates anteriores, na Band e na Record. Marta, que perdeu o primeiro turno e largou no segundo round 17 pontos atrás, citou dois vetos de "Kassab-prefeito" - ao ensino profissionalizante nos CEUs e à ampliação da licença-maternidade - para mostrar diferenças com o "Kassab-candidato". "São dois Kassabs", frisou. "Você embaralha tanto que a gente não sabe nem por onde começa a desmentir." Ela assegurou que o prefeito tinha um projeto na Câmara Municipal paulistana para instituir na cidade o pedágio urbano. Ele rebateu: "A população sabe que não é verdade o que você está falando. A mentira deve ser desmentida. É mentira." Os embates se sucederam. Ao discutirem o déficit de vagas em creches, foi a vez de Marta voltar à acusação: "A mentira continua, deslavada, em relação ao número de creches e em relação ao número de vagas." Quando o prefeito a alfinetou sobre fraudes em catracas de ônibus, a candidata petista reforçou a artilharia: "Você não falou a verdade. Se havia fraude, controlasse melhor, mas não tire benefício da população." O bate-boca sobre verdades e mentiras invadiu o bloco seguinte, no tema da educação. "Mentiu de novo, eu fico pasma", bradou Marta, que logo em seguida acusou o prefeito de fazer "propaganda enganosa". Foi aí que Kassab ganhou da emissora um minuto para se defender. Em meio ao tiroteio, não ficou claro para os telespectadores a qual momento se referia o pedido de resposta. A ex-ministra revoltou-se, juntamente com uma parcela da platéia. Acalmados os ânimos, Kassab usou seu tempo para acusar a adversária de fazer um "debate pequeno, mesquinho". "Talvez seja desespero pelas pesquisas", argumentou. O direito de resposta também foi usado para rebater a estratégia do PT, de ligar Kassab aos ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta, além de minar o DEM, ex-PFL. O prefeito associou Marta ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares - acusado no episódio do mensalão - e lembrou o episódio que ficou conhecido como "dólar na cueca", quando um assessor parlamentar ligado ao PT foi preso em São Paulo. "Vamos manter o nível deste debate, nesta campanha", encerrou ele. Marta viu rejeitados os seus dois pedidos de resposta. Desta vez, porém, não mais se manifestou. NÚMEROS Nenhum dos dois apresentou novos projetos para a cidade. Desta vez, porém, o embate de números foi tão intenso que para um telespectador comum seria difícil anotar, muito menos conferir, todos os dados. Kassab prometeu mais que dobrar investimentos em saúde - superando R$ 3 bilhões -, alegou ter triplicado o "volume pavimentado" na cidade, estar produzindo 2 mil toneladas de asfalto por dia, ter reduzido para R$ 5 o preço do quilo do leite em pó, entre muitas outras cifras. Marta, em tom bem mais ácido que quando liderava a corrida, bateu insistentemente na tecla de que a população não conhece o prefeito. "Em que Kassab acreditar?", indagou. "Acho importante saber com quem anda sim. É importante que você assuma a sua trajetória." E ainda disse: "Seu marqueteiro fez um bom trabalho." Em uma defesa enfática de seu projeto de inclusão digital - internet grátis e sem fio em toda a cidade -, a ex-ministra se empolgou: "As pessoas estão doidas pra ter internet gratuita." Colou sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Kassab não deixou para menos - citou insistentemente o governador José Serra (PSDB). ?Você embaralha tanto que é difícil começar a desmentir? Marta Suplicy ?Internet gratuita é um factóide como foi o CEU Saúde? Gilberto Kassab ?São dois Kassab: um que veta e outro que diz que vai fazer? Marta Suplicy ?É mentira da ex-prefeita que vou implantar pedágio? Gilberto Kassab ?Aparece travestido de tucano. As pessoas não te conhecem ? Marta Suplicy ?A esposa de Delúbio Soares é sua principal assessora? Gilberto Kassab PONTOS ALTOS 1. Marta passa o primeiro bloco na ofensiva, tentando tirar a diferença das pesquisas. Acusa Kassab de vetar projetos na prefeitura e depois defendê-los na campanha 2. Kassab reequilibra o jogo fazendo acusações a Marta por ter deixado dívidas 3. Marta volta a garantir que não criará novas taxas, tentando fugir das repetidas cobrança do adversário 4. Kassab afirma que Lula investiu 10 vezes mais em sua gestão que na da rival, "pois tem mais projetos" 5. Os dois, finalmente, discutem trânsito, saúde e educação PONTOS BAIXOS 1. Kassab se distrai, no primeiro bloco, e acha que é hora de fazer pergunta, mas é advertido: "Não, você tem de fazer a réplica do que ela disse" 2. Marta discorre sobre vários assuntos e se esquece de responder o que fará na área de meio ambiente 3. Kassab, ao falar de creches, troca "prioridade zero" por "compromisso zero" 4. Marta se exalta ante uma crítica, tenta falar na hora errada e é cortada. Pede direito de resposta, que é negado 5. As claques dos dois lados ignoraram as regras, aplaudindo seus candidatos

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