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Marta destaca-se pela espontaneidade

Por Agencia Estado
Atualização:

De "menina sapeca" - nas palavras de Eduardo Matarazzo Suplicy, pai de seus três filhos - à "mulher que faz bem feito", apelo de campanha em 2004, Marta busca a reeleição com a aplicação que pautou sua vida e carreira política. Marta Smith de Vasconcellos Suplicy, desde cedo, ali pelos 6 ou 7 anos, já causava uma boa impressão e merecia o reconhecimento das colegas, até das professoras, por sua capacidade de contar histórias. Nos dias em que a aula atrasava, por um motivo qualquer, ela se punha a contar histórias, de pé, junto à lousa. Com desenvoltura e graça. Prendia a atenção de todos, arrancava aplausos e exclamações. A mulher que São Paulo pode escolher pela segunda vez para ocupar o cargo de prefeito e cuidar do Tesouro de R$ 14 bilhões destaca-se, também, pela espontaneidade com que reage a uma provocação - ou o que pode ser uma despretensiosa cantada à beira-mar. Não faz muito tempo, conta a psicanalista Yeda Saigh, amiga de infância, as duas faziam uma caminhada pelas areias de Pitangueiras, no Guarujá. Bater perna é mesmo com Marta, hábito que preserva desde criança e a mantém em boa forma. Pois naquela manhã, sol ameno, elas perceberam que alguém as seguia de perto. "Solteiras, casadas ou desquitadas?", foi a abordagem do sujeito. "Desinteressadas", respondeu Marta, de bate-pronto. Desconcertado, o estranho deu meia volta e enveredou-se por entre os guarda-sóis. Vaidosa, aos 59 anos arruma-se com elegância. O guarda-roupa é renovado em Paris, periodicamente. Os cabelos, que já foram longos, escorridos ou cacheados, a tesoura modelou até chegar ao corte de hoje, que lhe agrada muito. Como as jóias que exibe. Há quem a considere arrogante, antipática. Um jeito assim de "madame", como diz Anaí Caproni, do Partido da Causa Operária (PCO). Pesquisas de opinião pública mostram elevada taxa de rejeição a Marta, algo em torno de 25% - dado captado pelo Vox Populi, no início de setembro. Para 17% dos entrevistados que afirmaram não votar na prefeita, o motivo seria sua falta de simpatia. "Olha, acho que a gente não pode brigar com o que as pessoas acham de você", esquiva-se Marta. "Se tem gente que me acha antipática, tem todo o direito de me achar antipática. Eu também acho antipáticas algumas pessoas." Blasfêmias e desatinos - como a galinha preta que um estudante lhe atirou no Largo São Francisco ou a chuva de ovos na zona Leste - não lhe tiram o sono. Incomoda o título Martaxa? "Ele é injusto", diz a prefeita. "A Marta dorme muito bem, põe a cabeça no travesseiro e dorme", atesta Suzana Lage da Silva Prado, psicóloga, amiga e companheira da primeira campanha política de Marta, em 1994, quando se elegeu deputada federal. Nascida em São Paulo, a prefeita teve uma infância e uma adolescência bem vividas, na casa ampla e confortável, com quintal, nos Jardins. Os pais, Noemia (paulistana) e Luiz Affonso (carioca, industrial), foram morar na Rua Henrique Martins assim que se casaram. Tiveram quatro filhos: Marta, Luiz, Teresa e Cristina. Luiz, o Zizio, é empresário. Tereza, a Tetê, é roteirista. E Cristina, a Xina, era tradutora - morreu em agosto de 2000, na França. Marta e as irmãs fizeram o primário no Externato Madre Alix e o ginásio no Des Oiseaux do Colégio das Cônegas de Santo Agostinho. "Marta gostava de montar a cavalo, jogar tênis e nadar", conta Tetê Smith de Vasconcellos. "Nossos pais sempre liam muito e nos passaram este ótimo hábito." A biblioteca dos Smith de Vasconcellos era "muito farta e variada". Literatura nacional e estrangeira, livros científicos, de arte, enciclopédias. Marta sempre tinha um livro a tiracolo. "Ela gostava e gosta muito de ler e estudar", recorda-se Tetê. A prefeita está lendo Napoleão, de Stendhal. A família passava o verão na fazenda, em Itaipava, e em Búzios, no Rio. Na fazenda, Marta gostava muito de reunir todos os primos e primas para encenar peças de teatro escritas e dirigidas por ela mesma. Nas férias de inverno, iam para a casa dos avós maternos, em Campos do Jordão. Aos sábados, à tarde, Marta e os irmãos iam à Hípica Paulista, ver o pai jogar pólo. Aos domingos, à matinê do Cine Paulista, na Augusta. Na TV, ela se divertia muito com John Herbert e Eva Wilma, que estrelavam o Alô Doçura. Numa viagem a Paris, Marta aprendeu a dançar o twist muito bem. "Ela trouxe mais essa novidade para a família, aí não escapou de ter que ensinar a moda às duas irmãs menores", conta Tetê. Média Na escola, não chegou a ser uma aluna brilhante. Matemática era o seu fraco, revelam os boletins do Colégio Nossa Senhora de Sion, onde fez o clássico, entre 1961 e 1963. No primeiro ano, tirou uma nota 3 na matéria, no ano seguinte, um 2,5. Mas deu para passar, ainda que sem louvor, com média global 6,24. Nessa época, com 15 anos - tempos da meia três quartos, sainha plissada um tanto abaixo dos joelhos, sapatinho baixo -, ela já namorava Eduardo, o rapaz de boa família, bem apessoado, ombros largos e voz pausada que estudava na tradicional Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas e que, muito depois, virou senador da República. Nas festinhas, Elvis e Ray Charles na vitrola, Marta e Eduardo dançavam de rosto colado, recatadamente. O casamento foi em dezembro de 1964 - ela estava com 19 anos, ele, 23 - e durou 36 anos. Tiveram três filhos. Eduardo, o Supla, é roqueiro e está com 38 anos. André, o do meio, com 35, é advogado. João, 33, é o mais novo. André e João deram três netos a Marta. O casamento terminou pouco depois da campanha vitoriosa de 2000, quando Marta se elegeu prefeita - 58,5% dos votos em segundo turno - e apaixonou-se por Luís Favre, seu atual companheiro, com quem mora na Rua Dinamarca. De Eduardo, restaram lembranças e o sobrenome. Tomates Quando fazia o Sion, Marta revelou sua queda para a política ao fundar o grêmio estudantil. Uma novidade e tanto, principalmente porque só havia meninas no colégio de Higienópolis. "Ela tinha uma liderança muito forte", depõe Lilian Mil Homens Costa, que foi colega de Marta e hoje é professora de filosofia no Sion. Marta organizava ações sociais, competições esportivas e era a porta-voz das alunas na relação com as professoras. Depois, ela foi estudar psicologia no Sedes Sapientiae. Mais tarde, fez mestrado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. No início dos anos 80, quando as mulheres começaram a quebrar tabus e buscar a emancipação, Marta já defendia causas polêmicas, como a união civil dos homossexuais. Então, virou estrela de TV, como apresentadora do quadro "comportamento sexual", na Globo. Era um bloco de 6 minutos dentro do TV Mulher, criação de Nilton Travesso. Pelas mãos e ensinamentos do consagrado diretor, Marta logo virou sucesso. Atingiu 42 pontos no Ibope e ficou 5 anos no ar.

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