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Câmara chama Marinho para explicar orçamento secreto

Comissão de Trabalho da Casa quer ouvir ministro do Desenvolvimento Regional sobre repasses de recursos sem transparência indicado por parlamentares

Por Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA – O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, deverá comparecer à Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos da Câmara, no dia 8 de junho, para prestar esclarecimento sobre o orçamento secreto, criado para favorecer políticos aliados do governo, como revelou o Estadão. Um pedido de convocação do ministro, apresentado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), foi transformado em convite e aprovado por unanimidade pelo colegiado, nesta terça-feira, 18.

“Este arranjo espúrio, além de ferir gravemente as normas constitucionais que definem as emendas parlamentares impositivas, dificulta a fiscalização e controle por parte Tribunal de Contas da União (TCU) e da sociedade, configurando grave interferência na independência e equilíbrio entre os poderes da República, além da ineficiência alocativa dos recursos públicos”, escreveu o deputado no requerimento.

O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho Foto: Marcos Corrêa/PR

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Um esquema montado pelo presidente Jair Bolsonaro para controlar o Congresso, no fim do ano passado, criou um orçamento secreto de R$ 3 bilhões. Por ordem do Palácio do Planalto, o dinheiro foi liberado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em troca de apoio ao governo. Boa parte de uma nova modalidade de emendas (RP9) foi destinada à compra de equipamentos agrícolas e tratores por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo. O caso ficou conhecido como tratoraço.

A manobra foi colocada em prática às vésperas das disputas no Congresso, que elegeram Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando do Senado. Por causa do orçamento secreto, Bolsonaro está na mira de outras duas representações enviadas ao TCU. Uma delas é assinada pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), líder da Minoria na Câmara, e outra pelo subprocurador Lucas Rocha Furtado. Além disso, deputados falam até mesmo na criação da “CPI do Tratoraço”.

Em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta segunda-feira, 17,  Marinho admitiu pela primeira vez que os repasses privilegiaram parlamentares aliados na distribuição dos recursos, um modelo conhecido como “toma lá, dá cá”.

O critério de divisão não é transparente, mas, para Marinho, não há qualquer problema em tratar os congressistas de forma desigual de acordo com o seu alinhamento ao governo. “É evidente que formam maioria no Parlamento e essas maiorias são exercidas, inclusive, na questão do Orçamento em qualquer democracia do mundo. É muita ingenuidade imaginarmos que na discricionariedade você vai tratar os desiguais de forma igual”, afirmou o ministro.

Marinho também é alvo de um pedido feito por oito deputados da oposição que acionaram a Procuradoria da República no Distrito Federal, pedindo abertura de inquérito por improbidade administrativa contra ele e o presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Marcelo Andrade Moreira Pinto.

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Com o convite aprovado nesta terça-feira, 18, Marinho não é obrigado a comparecer à Comissão do Trabalho - seria assim caso ele fosse convocado –, mas deputados esperam que ele não se negue a dar explicações sobre o assunto.

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