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Marinha testa poder de fogo na área do pré-sal

Programa de defesa do litoral brasileiro foi realizado em área onde se concentram grandes jazidas de petróleo e gás recém-descobertas

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

Os avisos de alerta vermelho já ecoaram na fragata Liberal, quando os primeiros sinais do inimigo surgem como pontos luminosos nas telas dos radares e sensores do Centro de Operações de Combate (COC), o coração nervoso do navio. Oficiais e praças, de luvas, capuzes e capacetes, já assumiram os postos de ataque e miram os pontinhos escuros na linha do horizonte, que se aproximam vertiginosamente, assumindo a forma de caças inimigos. O fogo antiaéreo dos canhões estremece os passadiços do Liberal, onde marinheiros se espalham em passos ensaiados. Vibração a bordo: o ataque à esquadra foi repelido com a derrubada de um dos caças, ao mesmo tempo em que torpedos guiados eletronicamente mantiveram à distância o submarino e o navio agressores. A defesa em ataque aéreo, de superfície e submarino simultâneo foi um dos mais desafiadores exercícios do Aderex, o programa de adestramento da Marinha brasileira, realizado entre 30 de março e 7 de abril no litoral que vai do sul do Espírito Santo ao sul de São Paulo - justamente a área do pré-sal, onde se concentram as grandes jazidas brasileiras de petróleo e gás. Durante os nove dias, grande parte da esquadra e todo o seu efetivo foram mobilizados em exercícios de treinamento para uma situação de guerra. No ataque simulado, as fragatas Liberal e Bosísio e as corvetas Inhaúma e Jaceguai tinham a missão de proteger o navio-tanque Almirante Gastão Motta das investidas do "inimigo" - o submarino Tupi, o navio-patrulha Guajará e duas aeronaves de ataque AF-1 Skyhauk. O vice-almirante Fernando Eduardo Studart Wiemer disse que o treinamento é essencial para manter a força em permanente alerta frente a novas ameaças, como o risco de sabotagem às plataformas petrolíferas. "Temos interesses que precisam ser defendidos, entre eles, as riquezas do mar, como o pescado e o petróleo." Para isso, segundo ele, é necessário ter uma Marinha adestrada e que imponha respeito a um possível inimigo. "Nosso país se caracteriza por não ter inimigos declarados, principalmente em nosso entorno estratégico, mas o Brasil está crescendo e a Marinha precisa estar à altura." Os exercícios incluíram o lançamento de torpedos com busca acústica, capazes de rastrear um submarino pelo ruído dos motores. SABOTAGEM O treinamento teve duração de 9 dias e cobriu 1.300 quilômetros de costa marítima. Foi mobilizado um efetivo estimado em 1.500 homens, entre oficiais e praças. Os 27 exercícios realizados empregaram 7 navios, 2 submarinos, 2 helicópteros e 2 caças. Houve operações complexas, como a transferência de combustível no mar - um helicóptero Super Liynx e a fragata Liberal foram abastecidos em plena navegação pelo navio-tanque. Durante a parada em Santos, o exercício contra sabotagem na fragata teve um episódio inusitado. Um prestigiado membro da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar) foi barrado ao entrar no navio até ficar provado que não era um sabotador disfarçado. No litoral do Rio, ocorreu um exercício inédito: pela primeira vez a tripulação de um submarino avariado foi resgatada em mar aberto, a uma profundidade de 50 metros. "Poucas marinhas conseguem fazer isso com êxito", disse Wiemer. Em quase todas as ações, foi testada a eficiência dos armamentos, como no exercício de apoio naval realizado no arquipélago de Alcatrazes. As fragatas abriram fogo contra supostos alvos para dar cobertura ao desembarque da tropa. Ao invés de explosivos, os projéteis continham areia. Os últimos exercícios foram acompanhados também pelo almirante Alvaro Luiz Pinto, diretor-geral de Navegação da Marinha. No final, o Estado-Maior da Armada homenageou oficiais e praças que se destacaram. Ponto para o suboficial armamentista Luiz Antonio Brito da Silva, de 45 anos, baiano de Salvador, respeitado pelos oficiais por ser um dos maiores peritos no canhão 4.5, uma das principais armas dos navios de guerra. Desde que entrou na Marinha como recruta, em 1982, Silva trabalha na limpeza e manutenção das armas. Acabou se tornando um especialista e passou a ser o auxiliar do oficial encarregado do armamento da fragata Liberal. Ele é o responsável pelo 4.5 e se orgulha. "Fizemos mais de 40 disparos, todos no alvo."

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