Mares Guia diz que mensalão não atinge governo

Ele elogia STF e rejeita idéia de que ministros tenham sido pressionados

Por Alessandra Saraiva
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O ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, avaliou ontem que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de abrir processo contra os 40 denunciados no escândalo do mensalão não vai prejudicar o governo Lula. Para ele, a inclusão do ex-ministro José Dirceu e de deputados e dirigentes petistas entre os réus "não respinga" no governo, pois são indivíduos que foram acusados e serão julgados. Veja quem são os 40 do mensalão "Não respinga porque são atitudes pessoais", disse no Rio, onde participou, como convidado, do Fórum de Reitores, realizado na Universidade Cândido Mendes (UCM). Mares Guia argumentou ainda que nenhum governo, por mais apto que seja, pode ter conhecimento prévio de todos os atos de seus colaboradores. Ele ressalvou que o fato de o Supremo ter acatado a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, não significa uma condenação e todos os 40 denunciados têm o direito de se defender. "Não são ainda culpados. São réus e têm o direito de se defender. Esse é um processo que ainda está em curso." Mares Guia descartou qualquer possibilidade de os ministros do Supremo terem tomado sua decisão pressionados. Na quarta-feira, o ministro Ricardo Lewandowski foi flagrado numa conversa pelo celular em que dizia que todos votaram "com a faca no pescoço". A divulgação do comentário provocou reações irritadas dos colegas. E Dirceu chegou a dizer que isso punha o julgamento do caso do mensalão sob suspeita. O ex-ministro e deputado cassado foi acusado pelo procurador-geral de ser o chefe da "organização criminosa" que operava o mensalão e está sendo processado por formação de quadrilha e corrupção. MINEIRO "O ministro do STF já tem seu cargo efetivo e fica nele até sua aposentadoria compulsória. Eles têm um conhecimento profundo, uma história de ilibada reputação. Não há como pressionar um juiz da Suprema Corte", afirmou ontem Mares Guia. Ele disse que é amigo de Dirceu e respeita sua opinião, mas deixou claro que discorda. "Eu sou mineiro e lá em Minas Gerais a nossa receita é a seguinte: sentença da Justiça não se comenta, a gente acata ou recorre, se tiver razão. Sem comentários." Na sua opinião, o julgamento do mensalão fortalece a imagem das instituições democráticas brasileira. "Estão funcionando democraticamente, no mais amplo espírito republicano." O ministro afirmou nunca ter visto um julgamento no Supremo com cobertura tão ampla da imprensa, onde as posições e opiniões dos juristas são conhecidas por todos durante o andamento do processo. "Isso aumenta a nossa confiança na Justiça, assim como aumenta a confiança no Legislativo, nos Poderes da República e na força das instituições. Mostramos que a coisa funciona." Questionado também sobre o processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no Conselho de Ética, o ministro disse que isso não prejudica as votações na Casa, que estão indo "muito bem". "Honestamente, eu não diria que atrapalha. Pode criar alguma dificuldade no sentido da velocidade das outras ações. Não obstante o Senado não está com a pauta trancada." Ele lembrou que o processo "está chegando a seu momento derradeiro" e o conselho deve votar o parecer dos relatores na quarta-feira. Mares Guia negou que o governo esteja articulando qualquer tipo de defesa em prol de Renan ou tenha recomendado aos senadores petistas que votem por sua absolvição. "Eu sou o articulador do governo e não tenho nenhuma recomendação para isso." Da mesma forma, o ministro disse que o governo não está discutindo outro nome para presidir o Senado. "Se estivéssemos pensando nisso, já estaríamos condenando Renan. E isso não podemos fazer." Ele admitiu que membros do governo têm posição sobre o caso, mas disse que isso não significa intenção de interferir. "Você pode dar sua opinião a um senador e ele votar com a opinião dele", afirmou. "Esse caso tem um trâmite, um processo, um julgamento. Tem o parecer dos relatores. Tem o direito de defesa. É muito difícil, do lado de fora, tomar partido a favor ou contra."

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