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Mares Guia diz não ver razão para se afastar do governo

Procurador-geral pode denunciar o ministro ao STF por suposta participação no 'mensalão mineiro'

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Por Redação
Atualização:

O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, disse nesta terça-feira, 18, que "não há razão" para se afastar do cargo. A declaração do ministro refere-se à possibilidade de o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresentar denúncia que inclui Mares Guia em suposto esquema de arrecadação de dinheiro montado em 1998 para a campanha à reeleição do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), hoje senador.   O esquema, que teve a participação do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza - o mesmo do escândalo do mensalão do PT, estourado em 2005 - ficou conhecido por "mensalão mineiro". De acordo com inquérito da Polícia Federal, o esquema teria arrecadado mais de R$ 100 milhões à custa do desvio de dinheiro público e de estatais. Para a PF, foi o embrião do maior escândalo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou por envolver a cúpula do PT.   A denúncia do procurador da República contra os envolvidos neste último escândalo possibilitou ao STF abrir processo contra 40 pessoas, entre elas os ex-ministros José Dirceu, Luiz Gushiken e Anderson Adauto.   Walfrido contou que informou a Lula, na manhã desta terça-feira, sobre a conversa que terá com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para dar explicações sobre o caso. Lula, conforme relato de Mares Guia, ouviu e manifestou "sempre solidariedade, amizade e confiança".   No encontro com o procuradoria Geral da República, Walfrido pretende apresentar todos os documentos que, segundo ele, comprovam sua inocência às acusações de participação no mensalão de Minas Gerais. O ministro disse ainda que este assunto não foi tratado na reunião de coordenação e que esta discussão "não constrange o governo".   Preocupação   O temor do Palácio do Planalto com um novo escândalo deve-se ao fato de que a denúncia do procurador da República contra um ministro não só o enfraquece, como atinge o próprio governo. Mares Guia tem como uma de suas funções estratégicas o estreitamento de laços entre o governo e o Congresso. É ele que negocia com cada um dos 513 deputados e 81 senadores a liberação das emendas parlamentares e que trata das nomeações de políticos indicados para cargos em estatais, segundo escalão e até ministros.   De acordo com informações de auxiliares de Lula, ao ser convidado ainda no primeiro governo para ser ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia teria contado ao presidente que a PF estava fazendo uma investigação em sua vida. Disse que não tinha nenhum envolvimento com caso algum, porque, ao contrário do que a PF afirmava na sua investigação, não havia sido coordenador da campanha de Eduardo Azeredo em 1998, mas em 1994.   Conforme as informações de Mares Guia a Lula e a outros ministros, o coordenador da campanha de Azeredo em 1998 era Carlos Eloy e o coordenador financeiro Cláudio Mourão. Mares Guia disse a Lula que é amigo de Eduardo Azeredo e que, como correligionário, e acima de tudo amigo, o ajudou no segundo turno das eleições, vencidas pelo então candidato do PMDB, Itamar Franco.   Ainda de acordo com os esclarecimentos de Mares Guia a Lula, ele chegou a fazer empréstimos pessoais para Azeredo, para tapar buracos de campanha. Numa destas vezes, disse o ministro ao presidente, o dinheiro foi depositado numa das contas da SMPB, uma das empresas de Marcos Valério. Essa empresa apareceu durante todo o escândalo do mensalão do PT e Simone Vasconcelos, sua gerente financeira, era quem repassava dinheiro vivo a deputados e assessores que iam buscá-los em quartos de hotel ou na agência do Banco Rural no Brasília Shopping, em Brasília.   Em nota distribuída no sábado, logo depois de reportagem da revista IstoÉ tratar do mensalão mineiro, Mares Guia disse que em 2002, quatro anos após a campanha, o ex-governador Azeredo estava sob ameaça de protesto de uma nota promissória, fruto de uma dívida de campanha cobrada por Cláudio Mourão.   Na nota, o ministro esclareceu que fez, então, um empréstimo, em nome da holding Samos Participações (que administra seus bens), "para ajudar o amigo a saldar a dívida". Na mesma nota, Mares Guia afirmou que o dinheiro foi depositado na conta indicada nos papéis levados a ele.   (Com João Domingos, do Estadão)

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