Marcos Pontes: com Bolsonaro, primeiro astronauta do Brasil ganha nova missão

Educação é a aposta do novo ministro da Ciência e Tecnologia

PUBLICIDADE

Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen
Atualização:

Marcos Pontes não é um político experiente, acostumado a negociações entre governo e academia. Tampouco é um cientista afeito aos meandros da administração do setor no Brasil. O primeiro (e único) astronauta brasileiro tem um perfil incomum para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações. Mas isso não é necessariamente ruim, avaliam especialistas.

Marcos Pontes, futuro ministro de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações do governo Jair Bolsonaro Foto: Neila Silva/Ascom Marcos Pontes

PUBLICIDADE

Especialistas ouvidos pelo Estado dizem que a sensação geral em relação ao futuro ministro é de expectativa. Pontes, de 55 anos, certamente, não é um neófito e, definitivamente, tem afinidades com a área de tecnologia e inovação. Além disso, o astronauta é um nome forte do novo governo, ligado diretamente ao presidente.O programa de governo de Bolsonaro acena com a possibilidade de um investimento em ciência da ordem de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) – contra parcos 1,2% atualmente – o que colocaria o país em um patamar mais competitivo internacionalmente.

“Educação para formar cidadãos qualificados. Ciência para desenvolver ideias e soluções específicas para o Brasil. Tecnologia para transformar ideias em inovações, que vão se transformar em novos produtos, que vão se transformar em novas empresas, que vão criar novos empregos. Estou muito feliz”, disse Pontes, em vídeo divulgado esta semana nas redes sociais, falando sobre os seus planos para a pasta.

Piloto de caça e engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com mestrado em engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, na Califórnia, nos EUA, Pontes foi selecionado em 1998 para o programa da Nasa – a agência espacial americana, onde foi declarado astronauta. O voo inaugural de Pontes estava originalmente marcado para 2001, como parte da construção da Estação Espacial Internacional, da qual o Brasil fazia parte.

O objetivo da missão seria transportar e instalar o módulo construído no Brasil. Problemas orçamentários da Nasa forçaram o adiamento da missão para 2003. A explosão do ônibus espacial Columbia, em fevereiro daquele ano, acabou por provocar a suspensão de todos os vôos da Nasa por tempo indeterminado.

Quando a ideia de ir ao espaço parecia já arquivada, em 2005, durante uma visita oficial à Rússia, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso pela Operação Lava Jato –, assinou um acordo de cooperação entre os dois países. O acerto previa o envio de Marcos Pontes à Estação Espacial Internacional a bordo de uma nave russa – que passou a ser o único elo de ligação da Terra com a estação, depois do cancelamento dos voos da Nasa.

Entre outubro de 2005 e março de 2006, Pontes se preparouna Agência Espacial de Roscosmos, na Cidade das Estrelas, na Rússia. A missão brasileira recebeu o nome de Centenário, em homenagem aos cem anos do voo de Santos Dumont no 14 Bis, em 1906. Em 30 de março de 2006, acompanhado do russo Pavel Vinogradov e do americano Jeffrey Williams, Pontes partiu da base de Baikonour, no Cazaquistão, a bordo da nave russa Soyuz TMA-8. Ela se acoplou à Estação Espacial na madrugada de primeiro de abril. Durante oito dias, Marcos Pontes ficou no laboratório espacial, onde realizou uma série de experimentos para a Agência Espacial Brasileira (AEB).

Publicidade

A “carona” no foguete russo custou ao governo brasileiro US$ 10 milhões. Na época, críticos disseram que era um desperdício de dinheiro uma vez que a missão não tinha grandes ambições científicas. Mas houve quem defendesse a empreitada. O objetivo era, basicamente, divulgação científica e, neste aspecto, Pontes cumpriu sua missão.

Depois que voltou do espaço, Pontes entrou para reserva, em 2006, aos 43 anos. Dedicava-se à divulgação científica, fazendo palestras em todo o País. A carreira política seria um desdobramento natural desse projeto – como havia lhe aconselhado o veterano astronauta John Gleen, o primeiro americano a entrar em órbita da Terra e que ocupou uma cadeira no Senado dos EUA entre 1974 e 1999. Em 2014, filiado ao PSB, Pontes tentou se eleger deputado federal por São Paulo sem sucesso. Este ano, ele se filiou ao PSL de Jair Bolsonaro.

“Ele tem claramente afinidades com o setor, tem vivência de tecnologia avançada, dado o período que passou na Nasa”, afirmou o diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe/UFRJ, Fernando Rocinha.

Principal cientista à frente do Projeto Ciência para o Brasil, Jerson Lima Silva, da UFRJ, afirmou: “Ele é uma pessoa que entende de ciência, que tem feito divulgação científica. Além disso, é um nome forte, uma pessoa de confiança do presidente, que chegou a ser cotado para vice.”

“Acho que o importante, nesse caso, é que seja uma pessoa que faça bem essa ponte entre a ciência brasileira e o governo”, afirmou a astrofísica Duília de Mello, da Universidade Católica de Washington e da Nasa. “Eu não sei se ele tem essa penetração na academia, mas isso não quer dizer que não possa vir a ter”.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.