Mantega indicou nomes para Petros, mostram gravações

Conselheiros criticaram iniciativa do então ministro; Graça pediu para que diálogos não constassem de ata

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Por BRASÍLIA
Atualização:

Gravações das reuniões do Conselho de Administração da Petrobrás mostram que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega fez indicações políticas para o comando da Petros, fundo de pensão dos funcionários da estatal. Os áudios dos encontros mostram que a iniciativa foi criticada por integrantes do colegiado, que apontavam inexperiência dos indicados e até a suspeita de que um deles teria lidado com propinas em ocasiões anteriores. Mantega foi presidente do Conselho de Administração da Petrobrás.No encontro, de 13 de janeiro de 2015, a então presidente da Petrobrás, Graça Foster, disse que recebeu "uma determinação" de Mantega, com nomes e currículos, e que ele pediu que Graça "viabilizasse as mudanças" na Petros. Ao final, ela pediu que essa informação não constasse da ata. O pedido de Graça foi atendido.Menos de dois meses depois, houve mudanças na diretoria da Petros. Como os indicados por Mantega não são citados na gravação da reunião do conselho, não é possível saber se os nomes apoiados pelo então ministro da Fazenda e presidente do Conselho de Administração da estatal entraram na Petros.Na reunião, o então representante dos funcionários da Petrobrás, Sílvio Sinedino, afirmou que foi chamado para discutir a mudança na diretoria do fundo de pensão e soube de alguns nomes que haviam sido indicados para cargos que não tinham "a menor capacidade para assumir essas posições" - nunca haviam sequer administrado "nem uma carrocinha de pipoca".Sinedino chegou a dizer que uma auditoria interna da Petrobrás mostrava que uma das pessoas indicadas teria recebido parte dos R$ 500 mil de propinas supostamente pagas por uma administradora de fundos de investimento.'Irregular'. O conselheiro Mauro Cunha disse que as informações eram muito graves e que achava "completamente irregular" o fato de Mantega indicar um nome para ocupar uma diretoria no fundo de pensão, "falha grave na governança". "Se esse cara for pego roubando amanhã, vão dizer que a responsabilidade era do conselho, mas o conselho foi instruído pela Petrobrás, mas a Petrobrás foi instruída pelo ministro, e o ministro vai dizer que a responsabilidade é do conselho", afirmou.Graça Foster ressaltou, então, que as indicações não haviam partido da Petrobrás e que a estatal tinha pouca ingerência sobre o fundo de pensão. A então presidente da Petrobrás pediu para que as informações tratadas na discussão não fossem transcritas na ata da reunião. "Quem me mandou e-mail, quem me passou os nomes, eu peço que não esteja em ata. Senão a gente não vai poder conversar aqui na reunião do conselho. Porque o ministro passou o nome, isso não deve estar em ata", afirmou Graça. O documento oficial, porém, registrou a preocupação de Sinedino sobre os "potenciais indicados, além de ser mais um caso de patente interferência do acionista controlador". A reportagem não conseguiu contato com Sinedino. Mantega foi questionado, mas não respondeu. Graça não foi localizada. Em nota, a assessoria da Petrobrás afirmou que não comentaria "informações supostamente oriundas de vazamentos ilegais". / I.P., L.R., D.C., E.D., L.R., A.M. e F.F.

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