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Manifestação simultânea em SP, RJ e DF alerta para prescrição do mensalão

Por Bruno Siffredi
Atualização:

A demora do Supremo Tribunal Federal (STF) em julgar os envolvidos no escândalo do mensalão será alvo de manifestações neste sábado, 21. Os protestos acontecerão simultaneamente em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília. Criada pelos cariocas do movimento 31 de Julho, a campanha 'SOS STF - pelo julgamento do Mensalão já' pretende conscientizar a população sobre a possibilidade de prescrição das penas dos acusados no maior escândalo da Era Lula.

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Ana Luiza Archer, uma das organizadoras da manifestação do movimento 31 de Julho, afirma que o ceticismo das pessoas em relação ao êxito da iniciativa é o principal obstáculo enfrentado pelo grupo. "As pessoas acham que não vai dar certo, que não vai dar em nada, que não vai adiantar", afirmou ao estadão.com.br.

Na prática, o grupo coleta assinaturas nas três capitais e na internet para um abaixo-assinado que será entregue ao ministro do STF Ricardo Lewandowski, revisor do processo do Mensalão, em uma audiência pública marcada para o dia 25. Cobrado publicamente por colegas da corte, o ministro anunciou na quarta-feira, 18, que abriu mão do resto de mandato a que teria direito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para dedicar mais tempo à análise do caso.

A mobilização em torno do julgamento do Mensalão é, para Ana Luiza, também uma iniciativa contra a impunidade e faz parte de um processo de amadurecimento desses movimentos que surgiram com a bandeira do combate a corrupção. "A gente começou a perceber é que fazer um movimento anticorrupção é uma coisa muito vaga, muito genérica. É uma coisa bem quixotesca, porque a corrupção existe no mundo todo, o que não existe é essa impunidade que tem aqui no Brasil. Então, para ser mais efetivos e até para animar um pouco mais as pessoas, e também porque não dá pra ficar atirando para todo o lado, a gente resolveu focar", explicou.

Ela contou que a iniciativa de se mobilizar por temas como o mensalão surgiu como uma resposta a um artigo do jornalista Juan Arias, correspondente do jornal espanhol El País no Brasil. Em seu artigo, ele questionava a inércia dos brasileiros perante os escândalos na política. "Uns amigos nossos estavam batendo papo, conversando sobre isso. Aí, um deles disse: 'Então vamos fazer. Porque se ninguém faz, nós fazemos'. 31 de julho foi o primeiro dia que eles saíram aqui na orla do Leblon. Um grupo de duzentas pessoas, mais ou menos", conta Ana.

No último fim de semana, o movimento organizou um evento para a coleta de assinaturas na orla do Leblon, no Rio de Janeiro, que contou com uma presença ilustre. O ministro Luiz Fux, do STF, passeava com a neta no mesmo momento em que era realizada a mobilização e recebeu um panfleto sobre a iniciativa. "Até ele já foi informado presencialmente da nossa manifestação", observou Ana Luiza.

Leia a seguir trechos da entrevista com Ana Luiza Archer.

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Porque a escolha do abaixo-assinado como meio para reivindicar celeridade no julgamento do mensalão?

É uma forma de mobilizar e também de sensibilizar as pessoas com relação a esse problema, que é iminente. Se o julgamento não acontecer neste ano e ficar para o ano que vêm, já começam a prescrever algumas penas. Então, começamos este abaixoassinado justamente para começar a deixar o assunto em foco e para facilitar inclusive a adesão, porque o abaixo assinado também está na internet. As pessoas do Brasil inteiro podem participar e mesmo quem não poder ir na manifestação por algum motivo pode participar virtualmente pelo menos.

O abaixo-assinado faz parte da campanha que compreende outras atividades. O que vocês pretendem fazer?

Esse abaixo-assinado está sendo recolhido há três semanas. Nós já estamos com 15 mil assinaturas e no dia 21 vai ter a manifestação aqui no Posto 9 em Ipanema, às 11 horas da manhã. Vai ter uma performance aqui no asfalto, vai ter um aviãozinho passando em cima com a faixa 'SOS STF pelo julgamento do Mensalão já' e vamos recolher mais assinaturas ainda. Isso tudo vai ser entregue no dia 25 em Brasília numa audiência que já foi marcada com o ministro Ricardo Lewandowski pelo grupo Transparência Brasil e pelo Queremos Ética na Política. Eles marcaram e vão entregar pessoalmente ao ministro esse abaixo assinado presencial, que a gente vai encadernar. Porque o processo está na mão do Lewandowski.

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Como vocês vêm coletando assinaturas?

Estamos divulgando nas redes sociais e pelo link na petição pública. E também já fizemos quatro coletas presenciais aqui na orla do Rio. Já fizemos em Copacabana, Ipanema, Leblon e na Lagoa. No domingo, por exemplo, foi no Leblon e foi um sucesso. Acho que porque o assunto já está mais em evidência e as pessoas já estão mais ligadas na questão da prescrição dessas penas, caso o Mensalão não seja julgado agora, e a assinatura é muito fácil. 90% das pessoas aderem. Vão passando e assinando, até o guarda municipal assinou o abaixo-assinado pelo julgamento do mensalão. A adesão é muito grande e isso nos deixa bastante animados. Já há uma consciência. O pessoal já está pela conscientização da importância desse julgamento, que é emblemático. Se não ocorrer estaremos permitindo que a impunidade vá prosperando. A corrupção existe no mundo todo, mas aceitar a impunidade não é possível.

Como funciona a relação entre os movimentos de diferentes Estados do Brasil? Existe uma articulação ou os contatos são mais esporádicos?

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É constante. Nós temos ótimas relações. Eu mesma tive a mais ou menos um mês atrás em São Paulo no Congresso Contra a Corrupção, que foi promovido pelo Movimento Nas Ruas. Falei agora de manhã com a Carla Zambelli, que é a líder lá do movimento para saber o que vai acontecer em São Paulo e ela até me disse que no dia 21, quando vai ter essa manifestação nacional, vai acontecer no Masp às 15h uma manifestação. Vai ter trio elétrico e vai ter uma banda chamada Pega Ladrão. E eles também estão apoiando esta campanha 'SOS STF pelo julgamento do Mensalão Já'. E também falei agora com Brasília, e me disseram que vai ter uma manifestação na Esplanada dos Ministérios às 10h da manhã, promovida pelo movimento Brasil Contra a Corrupção. Vai ter uma performance também lá, e eles estão esperando também um bom resultado porque Brasília está bem mobilizada por conta disso. A gente está sempre falando com esses movimentos e mantemos boas relações com eles.

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