Mangabeira sai hoje do governo e volta a Harvard

Ministro ficou dois anos no cargo; segundo assessores, ele ajudará a elaborar programa de governo de Dilma

PUBLICIDADE

Por Ana Paula Scinocca e Tania Monteiro
Atualização:

Dois anos depois de assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, completados no último dia 19, o ministro Mangabeira Unger despede-se hoje do cargo para reassumir a função de professor na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Segundo assessores, ele disse que também vai trabalhar na elaboração do programa de governo da candidata do PT à Presidência, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A saída de Mangabeira do governo foi fechada na sexta-feira, dia 26, data em que o ministro encaminhou oficialmente ao presidente Lula sua carta de demissão. No mesmo dia, ficou acertado que ele trabalharia na secretaria até hoje. Na negociação com o presidente, Mangabeira tentou emplacar como seu substituto o atual secretário executivo da secretaria, Daniel Vargas, um ex-aluno seu de Harvard. De imediato, conseguiu que Vargas fique no posto apenas interinamente. A avaliação de auxiliares de Mangabeira e de integrantes do Planalto é que o secretário executivo não tem "cacife político" para ocupar definitivamente a vaga. Há 15 dias, o ministro foi informado de que a prorrogação de sua licença na Universidade Harvard não poderia ser renovada e começou a negociar sua saída do governo. Depois, reuniu auxiliares próximos e os informou de sua decisão. Até assumir o cargo, em junho de 2007, Mangabeira era um crítico ferrenho de Lula. Em novembro de 2005, escreveu um artigo classificando o governo petista como "o mais corrupto" da história nacional". Afirmou que "desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas". Há duas semanas, em conversa com o Estado, Mangabeira não poupou elogios a Lula e disse que sua relação com o presidente era muito "calorosa". "O presidente é muito intuitivo", disse, na ocasião. Na mesma entrevista, Mangabeira destacou sua boa relação com Dilma e, ao falar sobre a disputa presidencial de 2010, fez questão de evitar comentários que pudessem revelar sua participação no jogo político do ano que vem. "Eu me dou bem com os dois (Dilma e o governador José Serra, nome provável do PSDB para a disputa), mas conheço melhor a ministra Dilma", comentou. "Não falo nada além disso sobre eleição." AQUEDUTO Ao longo dos dois anos em que esteve no governo, Mangabeira foi protagonista de momentos polêmicos, como em janeiro do ano passado, quando, à frente de uma comitiva de 38 pessoas, propôs a construção de um aqueduto para levar água da Amazônia para a Região Nordeste. Envolveu-se em vários embates com Marina Silva e Carlos Minc, respectivamente a ex-ministra do Meio Ambiente e seu sucessor. Figura polêmica, teve seu nome mencionado ao longo da CPI dos Grampos por ter prestado consultoria para o banqueiro Daniel Dantas. É apontado como uma das autoridades supostamente bisbilhotadas pelo ex-chefe da Operação Satiagraha, o delegado Protógenes Queiroz. Intelectual reconhecido, Mangabeira é visto por muitos como arrogante. "Sou muito desajeitado, incompetente e inepto nas relações sociais", disse. Bem-humorado, afirmou que confia "na generosidade dos meus conciliadores, que, em face, a maioria tem muito mais jogo de cintura do que eu". Influenciado pelo falecido governador Leonel Brizola (PDT), Mangabeira já cogitou disputar a Presidência da República. Atualmente, continua filiado ao PRB, mesmo partido a qual pertence o vice-presidente José Alencar. Mangabeira pretende divulgar uma carta de 37 laudas que entregou ao presidente Lula na semana passada, com um relatório de suas ações frente à pasta.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.