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Mandetta rebate Doria, defende Bolsonaro e diz que ‘ninguém é dono da verdade’

Ministro da Saúde afirma que não se deve ‘politizar’ o coronavírus e o uso da cloroquina no tratamento da doença

Foto do author André Borges
Foto do author Julia Lindner
Por André Borges e Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA – Ao defender um “posicionamento técnico” sobre a adoção da cloroquina no combate ao novo coronavírus, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, fez, nesta quarta-feira, 8, uma clara defesa política do governo Bolsonaro sobre o assunto. O ministro também rebateu o governador de São Paulo, João Doria, e disse que “não existe ninguém que é o dono da verdade”.

Mandetta não poupou críticas ao posicionamento de Doria, que defendeu o epidemiologista e coordenador do Centro de Contenção do vírus em São Paulo, David Uip, alvo de pressão do presidente Jair Bolsonaro para que revelasse se fez uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, da qual se curou. Nas redes sociais, o governo também defendeu o uso do medicamento, usando uma frase do ministro da Saúde.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante entrevista coletiva; chefe da pasta defende governo Foto: Dida Sampaio/Estadão

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“Não existe ninguém que é o dono da verdade. Não existe Estado que possa falar que é melhor que o outro. Hoje esse medicamento não tem paternidade. Não tem que politizar esse assunto”, disse Mandetta, referindo-se diretamente ao governo de São Paulo. Como não fazia há muito tempo, Mandetta fez questão de citar o nome de Bolsonaro em sua defesa do governo. “Para todos aqueles com ânimos mais exaltados, aqui está tudo bem”, disse o ministro. “Essa estrada vai ter dias muito duros. Quem comanda esse time é o presidente Jair Messias Bolsonaro”, acrescentou, mencionando o nome completo do presidente da República. 

Na tentativa de tentar afastar de vez o clima ruim com o presidente, Mandetta disse ainda que Bolsonaro “em nenhum momento fez qualquer movimento de imposição” em relação à adoção da cloroquina no tratamento das pessoas. Bolsonaro defende o medicamento, disse Mandetta, mas também “sabe que precisamos que os conselhos de medicina avaliem esse uso.”

A polêmica em torno da cloroquina diz respeito a quem deve tomar o remédio, e em qual momento. O Ministério da Saúde tem defendido desde o início que se trata de uma substância que ainda não foi devidamente testada, com contraindicações sérias e que deve ser ministrada apenas pelo médico, em casos graves ou críticos de pacientes com covid-19.

Bolsonaro, porém, sempre defendeu o medicamento usado no combate à a malária como um tipo de “cura” do coronavírus, e que deve ter seu uso massificado a toda a população. O presidente disse ainda que indicaria medicamento para a mãe caso ela tivesse sintomas do novo coronavírus. Os primeiros testes com paciente com sintomas leves da doença, porém, sequer tiverem início.

Na manhã desta quarta-feira, Bolsonaro recorreu às redes sociais para dizer que “dois renomados médicos” recuperados da doença se recusaram a divulgar se usaram a hidroxicloroquina durante o tratamento, se referindo a David Uip e ao cardiologista Roberto Kalil, do Hospital Israelita Albert Einstein, que pouco depois disse que consumiu a droga.

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A postura do presidente motivou ataques virtuais de apoiadores de Bolsonaro aos dois médicos, em especial a Uip, por sua ligação com o governo de São Paulo, comandado por Doria , que protagoniza atritos com o chefe do Planalto durante a crise do coronavírus.

Uip reagiu e, em entrevista coletiva, pediu ao presidente que ele respeitasse seu direito enquanto paciente de não revelar o que usou durante seu tratamento, afirmando que respeitou Bolsonaro quando ele preferiu não mostrar os resultados de seus exames para covid-19. O médico disse ainda que os ataques que recebeu serão levados à Justiça. “Tomarei providências legais por essa invasão à minha privacidade e à dos meus pacientes”, disse o infectologista, ao afirmar que a privacidade de sua clínica particular também foi agredida.

Uip ainda lembrou que, durante reunião com Mandetta, foi ele quem recomendou ao governo que autorizasse o uso da hidroxicloroquina para pacientes internados com covid-19, mas sempre sob receita médica e autorização formal do paciente. A recomendação foi acatada pelo Ministério.

Doria também reagiu, com repúdio ao “gabinete do ódio em Brasília” e seus ataques aos médicos, técnicos e autoridades da saúde “Nós precisamos de paz e não de confronto. Que País é esse onde o confronto através das redes sociais é feito para destruir as pessoas e a reputação?”, disse o governador.

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Durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes, Doria ainda voltou a fazer referência ao presidente Bolsonaro. “Não foi nenhum médico no Brasil que disse, por várias vezes, que a gravíssima crise do coronavírus era uma gripezinha ou um resfriadinho”, disse o governador. “Portanto, respeito com os médicos do Brasil”, disse.

Governo usa redes sociais para defender uso da cloroquina

O governo federal divulgou nesta quarta-feira, 7, mensagem que enaltece o uso da cloroquina por pacientes com o novo coronavírus. A publicação, feita nas redes sociais da Secretaria de Comunicação da Presidência, cita “resultados positivos”do medicamento no tratamento da covid-19 e usa uma frase do ministro Mandetta. 

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“Estudos clínicos realizados ao redor do mundo têm mostrado resultados positivos para o uso da cloroquina contra a Covid-19”, diz mensagem. A publicação prossegue dizendo que a pasta liberou o medicamento para pacientes em estado grave ou moderado, mas não reproduz a ressalva sobre infectados com outras características.

Em seguida, uma imagem atribui a seguinte declaração ao ministro: “Nós já liberamos cloroquina e hidroxicloroquina tanto para os pacientes críticos, como para todos os internos em hospitais”. O comentário foi feito por Mandetta, terça-feira, 7, em entrevista coletiva.

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O ministério já disponibilizou a droga a hospitais e definiu protocolos que só permitem utilizá-la em pessoas internadas em condição grave ou moderada. Na terça, Mandetta disse que médicos interessados em prescrever a medicação deveriam explicar os riscos aos pacientes e assumir a responsabilidade.

Entre as preocupações do ministério ao ampliar o uso da substância é o aparecimento de efeitos colaterais em pessoas que estarão fora da estrutura e do acompanhamento hospitalar.

Na entrevista que concedeu nesta quarta, o ministro voltou a falar do medicamento. “O presidente da República em momento algum fez colocação de imposição. Ele defende que se há chance para esse ou aquele paciente, que a gente possa garantir o medicamento. Mas ele também entende quando a gente coloca que em situações que podem ser complexas precisamos que os conselhos analisem”, disse. /COLABOROU VINÍCIUS VALFRÉ 

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