Mandetta avisa equipe que deve ser demitido e número 2 da Saúde pode assumir ministério

Uma solução provisória, segundo integrantes do governo, seria colocar João Gabbardo no cargo de ministro

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Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, avisou a equipe que deve demitido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. A data da exoneração não é certa, mas, em plena pandemia da covid-19, o clima é de despedida entre funcionários da pasta. 

O ministro da Saúde, Luiz Henrque Mandetta, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Também não está confirmado o sucessor a Mandetta. Uma solução provisória, segundo integrantes do governo, seria colocar o "número 2" do ministério, João Gabbardo, no cargo de ministro. A leitura é de que a troca seria menos traumática para o momento que apostar no deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que é radicalmente contra a estratégia de isolamento social para combater a doença, como hoje defende o ministério. 

JoãoGabbardo dos Reis, secretário-executivo do Ministério da Saúde. Foto: Erasmo Salomao/MS

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Gabbardo foi secretário de saúde de Terra na década de 1990, quando o agora deputado era prefeito de Santa Rosa (RS). O "número 2" do ministério tem ainda bom diálogo com o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), e é visto como um apoiador de Bolsonaro, para quem fez campanha em 2018.

Entre funcionários do ministério e na indústria da saúde circula uma lista de possíveis nomes para substituir Mandetta. Além de Gabbardo e Terra são citados:

- Antonio Barra Torres - médico, contra-almirante e presidente substituto da Anvisa;- Ludhmila Hajjar - diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia;  - Claudio Lottemberg - Presidente do Conselho do Hospital Israelita Albert Einstein; - Ludhmila Hajjar - diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia; - Nise Yamaguchi - Oncologista e imunologista defensora do uso da cloroquina para pacientes com sintomas leves da covid-19

Secretário de Vigilância pediu demissão, mas Mandetta negou

Mesmo antes de a demissão de Mandetta ser confirmada, o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, já despediu-se de sua e equipe. Em carta enviada a colegas nesta quarta-feira, 15, ele afirma que teve reunião com Mandetta e "sua saída está programada para as próximas horas ou dias". Ele diz que até uma demissão de Mandetta pelo Twitter pode ocorrer. "Só Deus para entender o que o querem fazer", completou. Após a carta, no fim da manhã, Wanderson pediu demissão do cargo. À tarde, no entanto, Mandetta disse que não aceitaria.

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Wanderson de Oliveira, secretário nacional de Vigilância em Saúde Foto: Marcello Casal/ Agência Brasil

O secretário é apontado como um dos principais mentores da estratégia de combate ao novo coronavírus no governo. Ele já havia dado sinais de retirada ao distribuir na terça a colegas um relatório sobre a sua gestão.

Na semana passada, em entrevista na qual revelou que auxiliares chegaram a limpar suas gavetas no gabinete achando que ele seria demitido naquele dia, Mandetta afirmou que, caso fosse embora, seu time sairia junto. “Aqui nós entramos juntos, estamos juntos e quando eu deixar o ministério a gente vai colaborar de outra forma a equipe que virá. Entramos juntos e vamos sair juntos”, afirmou o ministro. Veja aqui quem é a equipe de Mandetta na Saúde.

Estratégia contra o coronavírus opõe ministro e presidente

Desde o início da crise do coronavírus, ministro e presidente têm se desentendido sobre a melhor estratégia de combate à doença. Enquanto Bolsonaro defende flexibilizar medidas como fechamento de escolas e do comércio para mitigar os efeitos na economia do País, permitindo que jovens voltem ao trabalho, o ministro tem mantido a orientação da pasta para as pessoas ficarem em casa. A recomendação do titular da Saúde segue o que dizem especialistas e a Organização Mundial de Saúde (OMS), que consideram o isolamento social a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.

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Ministro e presidente também têm divergido sobre o uso da cloroquina em pacientes da covid-19. Bolsonaro é um entusiasta do medicamento indicado para tratar a malária, mas que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus. Mandetta, por sua vez, tem pedido cautela na prescrição do remédio, uma vez que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o vírus

As últimas atitudes do ministro elevaram a temperatura do confronto com e, na visão de auxiliares, podem acelerar sua saída da equipe. O estopim da nova crise foi a entrevista dada por Mandetta ao programa Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo. O tom adotado pelo ministro foi considerado por militares do governo e até mesmo por secretários estaduais da Saúde como uma “provocação” ao presidente.

Nessa terça, 14, em entrevista da estreia da série “Estadão Live Talks”, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que Mandetta "cruzou a linha da bola” quando disse, no domingo, que a população não sabe se deve acreditar nele ou em Bolsonaro. “Cruzar a linha da bola é uma falta grave no polo. Nenhum cavaleiro pode cruzar na frente da linha da bola”, explicou o vice. “Ele fez uma falta. Merecia um cartão”, continuou Mourão.

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O ministro admitiu a auxiliares ter cometido um erro estratégico e que tentaria nos próximos dias sair do foco da crise. Auxiliares do presidente observam que Bolsonaro só não dispensou o ministro ainda porque faz um cálculo pragmático.

Pesquisas mostram que Mandetta, hoje, é mais popular que Bolsonaro e sua demissão, neste momento, poderia agravar a crise. Por isso a solução caseira, de manter Gabbardo no comando da pasta, passou a ser cogitada.

Saída

Em conversas reservadas, Mandetta já chegou a confidenciar que só não tomou a iniciativa de deixar o governo ainda por receio de ficar com o ônus de quem abandonou “o barco” – ou “o paciente”, como tem dito – no momento mais dramático.

Após participar ontem de reunião ministerial com Bolsonaro, no Planalto, Mandetta foi questionado por jornalistas se eram verdadeiras as análises feitas no próprio governo sobre sua intenção de forçar a saída da equipe.

“Não vejo nesse sentido. (O que houve) foi mais uma questão relacionada à comunicação, a como vamos comunicar. Nada além disso”, disse ele. “Sabemos de nossa responsabilidade e estamos trabalhando com toda a garra."

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