PUBLICIDADE

Maluf usa banda para abafar vaias na rua

Grupo de sambistas acompanha ex-prefeito

Por Moacir Assunção
Atualização:

Como evitar ou ao menos diminuir as vaias da população a um campeão em taxas de rejeição? O candidato do PP à Prefeitura de São Paulo, Paulo Maluf, tem a resposta: basta mandar uma bandinha formada por membros da bateria de uma escola de samba tocar bem alto enquanto os eleitores se manifestam, em geral de dentro de carros e de ônibus. Em várias ocasiões, a tática funcionou. No início da campanha, quando o político saía sem a banda, ouvia mais xingamentos. Anteontem, o batuque dos jovens abafou o grito de "ladrão" de um passageiro de ônibus na Penha, zona leste. Na terça, outro motorista bradou "cadê o meu dinheiro, Maluf?" de dentro de um carro no Jaçanã, zona norte, mas também não foi ouvido pelo sorridente candidato, que andava pela calçada acompanhado de um séquito de postulantes a vereador, cumprimentando potenciais eleitores. Somente na terça-feira, em Santo Amaro, na zona sul, a publicitária Marisa Leal dos Santos, de 27 anos, conseguiu xingar Maluf quando ele entrava em uma loja na qual ela comprava roupa. "Ele é um cara-de-pau. O cara é preso, rouba pra caramba e agora vem pedir voto. Eu sou Alckmin", disse ela a um surpreso candidato, que acabou se retirando do estabelecimento. A banda abafa até mesmo a voz do próprio Maluf, que precisa falar em tom mais alto quando conversa com os eleitores na rua para se fazer entender. O grupo de bateria é formado por integrantes do chamado Movimento Cultural Zona Sul, dirigido pelo ex-presidente da Liga Independente das Escolas de Samba Robson de Oliveira. Os jovens, que não revelam quanto ganham por "apresentação", integram também a Escola de Samba Flor de Liz, da Vila Santa Catarina, na zona sul, campeã do grupo de acesso do carnaval paulistano. Apesar das hostilidades em alguns momentos, Maluf tem sido, no geral, bem recebido em suas caminhadas. Os lojistas respondem com tímidos acenos às saudações do candidato. "ENTUSIASMO" Maluf garantiu que, ao contrário do que possa parecer, a banda não foi contratada para ser uma espécie de proteção antivaias. "Tenho um especial apreço pelo carnaval, que é verdadeiramente uma expressão da cultura brasileira e essa bandinha tocando entusiasma o povo e me entusiasma também", justificou. De acordo com o ex-prefeito, que chegou a ensaiar alguns passos desajeitados de samba anteontem no Lausane Paulista, zona norte, a banda foi uma sugestão do ex-presidente da Liga Independente das Escolas de Samba. Com relação aos apupos, o candidato disse que não se preocupa. "É lógico que não espero ser eleito com 100% dos votos, eu quero 50% mais um e tenho coragem de vir à rua e pregar o meu plano de governo. Quando a Marta, o Kassab e os demais candidatos tiverem a mesma coragem, vou pedir que os malufistas não os hostilizem." Robson Oliveira, que acompanhou ontem o candidato em visita ao bairro da Saúde, na zona sul, disse que a banda é uma homenagem ao ex-prefeito. "Ele foi o homem que construiu o Sambódromo e lá no nosso bairro, na Vila Santa Catarina, a única quadra de esportes que funciona fica dentro de um Centro Desportivo Municipal (CDM), que também foi feito por ele", explicou, sem esclarecer qual a remuneração dos jovens. No horário eleitoral gratuito na TV, ao menos por enquanto o candidato não tem aparecido para falar das suas propostas. Há somente cenas de rua feitas pela equipe que sempre o acompanha. Ao que parece, a estratégia é evitar rejeição em um primeiro momento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.